Tempos de lobos

Para Osho, a mente sente dor, sofrimento; ela sente todos os tipos de emoção, apegos, desejos, anseios… Mas isso tudo é projeção da mente, como a virtude e o pecado, que não são conceitos sociais, são realizações interiores. Por trás da mente está o eu verdadeiro, que nunca vai a lugar nenhum. Ele está sempre ali, e nisso poucos homens chegam a maturidade cientes disso, denominado popularmente de idade dos lobos.

O filosofo Rousseau dizia que “na juventude deve-se acumular o saber e na velhice fazer uso dele”. Um exemplo de um homem na idade de lobo é o ator Clint Eastwood, soube como poucos conciliar fama com maturidade seguindo bem esta regra. Ao completar agora 92 anos de idade, o astro que esbanjou virilidade em toda sua carreira, acumula desde seus 20 poucos anos muitas experiências por seus inúmeros trabalhos no mercado cinematográfico, tornando-se parte da cultura popular americana. Eastwood é a prova viva da tese de que não paramos de amadurecer se divertindo por ficarmos velhos e, sim, envelhecemos porque paramos de nos divertir. Clint não envelhece, apenas se diverte com o que faz. Ele já se tornou uma canção pop e até já foi homenageado por bandas de rock – uma delas leva até seu nome – além de ter se tornado personagem de vídeo game e até de quadrinhos. A história do ator vai um pouco além, na política foi prefeito de Carmel, uma das cidades mais charmosas da Califórnia, onde ainda abriga seu rancho, aberto a visitantes.

Teve referências à sua pessoa, ou seus personagens, em inúmeros filmes, foi indicado várias vezes ao Oscar, já faturou por duas ocasiões a tão sonhada dobradinha melhor filme/melhor diretor, sem contar as centenas de prêmios que já recebeu por sua vasta carreira. Seu mais recente filme, “Cry Macho”, emociona pela leveza e sensibilidade, porém não é tão simbólico quanto “A Mula”, filme de 2018, que conta a história (verídica) de um nonagenário floricultor que, de uma hora para outra, embarca no mundo do tráfico, transportando drogas, atravessando o país com sua caminhonete, sempre acima de qualquer suspeita. O mote do filme é sobre nossa eterna falta de tempo para as coisas realmente importantes.

Resumindo, Clint marcou minha vida e de muitos na minha geração, é o filme perfeito da vida de uma boa velhice, aquela que é disposta e acumula experiências, colocando-as em prática constante, podendo até enrugar a pele, mas nunca a alma. Em tempos de muitos jovens se perdendo por falta de objetivos, de rumo, cultura e, acima de tudo, por falta de amor, talvez, assim como acontece nas tribos, esteja na hora de nós em idade dos lobos, pajés ou como velhos mesmo, que acumulamos anos de sabedoria, começar a interferir para que possamos viver num mundo mais justo, onde os erros antigos não sejam copiados e sim reparados, pois para os inexperientes a velhice pode ser o inverno da vida, mas para os sábios é a época de liderar as matilhas.

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