Resultados de testes de Covid-19 podem demorar até 7 dias devido à mudança no laboratório

Técnica em enfermagem responsável pela orientação dos pacientes relata rotina
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Nesta semana, com o contínuo aumento de casos de coronavírus no município de Sant’Ana do Livramento, e dessa forma, um aumento na demanda do trabalho dos profissionais da saúde, a reportagem do jornal Correio do Pampa conversou com a técnica em enfermagem Fernanda Ilha Harden Caetano.

Após a realização de testes e chegada dos resultados, Fernanda atua fornecendo as orientações e informações necessárias a cada paciente, com resultado positivo ou negativo. “Assim que chegam os resultados, que vêm de fora do município, nós separamos os não detectáveis (negativos) dos detectáveis (positivos) e assim que vamos recebendo vamos ligando para os pacientes”, conta.

Desde março atuando na área, a técnica relata que é feita uma busca de dados com os pacientes, e são repassadas as informações, sendo que é importante perguntar ao paciente positivo quais são os seus sintomas, como ele está, se está medicado, se sabe a forma de contágio e quantos familiares vivem na casa, pois os mesmos precisam cumprir o isolamento junto. “Muitas vezes é contato com casos positivos, como colegas de trabalho ou familiares, já uma transmissão comunitária é quando não se sabe onde houve a possibilidade do contato com o vírus”, lembra.

Logo após esse contato, é feita uma ficha de cadastro de cada paciente com uma previsão de alta, que é dada 14 dias após o início de sintomas, de acordo com o tempo de incubação do vírus. “Nesse período o paciente está fazendo o tratamento e geralmente até esses 14 dias já está apresentando a cura, aquele que ainda apresenta sintomas permanece no isolamento e todos são aconselhados a procurar consulta médica referente aos sintomas”, explica.

O contato com o paciente positivo por telefone costumava ser feito diariamente, porém, devido à demanda, atualmente são feitos apenas o primeiro contato para orientação e para a alta. “Antes nós tínhamos um número menor de casos positivos, conseguia lembrar o nome de cada paciente positivo e família, só que aumentou muito, a demanda está muito grande. Teve um período que estivemos somente com 9 ativos, estávamos praticamente zerando”, destaca.

Fernanda relata que acredita que as pessoas pensaram que o vírus tinha ido embora nesse período de baixa de casos, e também porque estão cansados do isolamento, porém foi esse relaxamento em relação aos cuidados que gerou o aumento de casos.

Junto com a demanda por atendimento, aumentou também a cobrança da população sobre o sistema de saúde. Mas a técnica ressalta a necessidade de as pessoas entenderem que o sistema é só um, enquanto cada pessoa pode se cuidar individualmente, seguindo os protocolos.

 

Testes

De acordo com Fernanda, por causa do aumento da demanda, o laboratório que atendia o município anteriormente (Unipampa – São Gabriel) sofreu uma enorme sobrecarga e foi necessário passar a enviar os testes para análise em outros locais.

“Os resultados que antes chegavam em até 48 horas estão demorando um período maior porque mudou o laboratório e agora está indo para Santa Maria e Porto Alegre. A gente recebe entre 4 e 7 dias o resultado, e muitas vezes quando chega o resultado o paciente já está na fase final da recuperação, então já agendamos o teste rápido para a família. Quem testa positivo no teste rápido recebe mais dias de isolamento, e o isolamento das famílias é muito importante, porque se esperar apresentar sintomas para se isolar, já estará contaminando outras pessoas”, explicou Fernanda.

 

Orientação

Quanto à orientação realizada por ela por telefone aos pacientes, Fernanda conta que os casos negativos, após receberem os resultados são liberados do isolamento e se estão com sintomas são orientados a procurar o clínico geral do posto, pois é provável que seja outra enfermidade, mas podem voltar ao trabalho e vida normal, mantendo os cuidados com a pandemia.

Já os pacientes com resultados positivos são orientados a permanecer em isolamento social, com as famílias, retornar para a consulta médica se não apresentar melhora nos sintomas ou apresentar alteração nos sintomas, e avisar os últimos contatos que teve antes de entrar em isolamento sobre o resultado.

“Sabemos que em muitos ambientes de trabalho, quando há um positivo, há um certo pânico, porque o pessoal descansa muito no ambiente de trabalho, não usa máscara, compartilha objetos de uso pessoal, toma chimarrão junto, então seguir os protocolos, é importante para ter uma segurança nesses casos. A orientação a quem testar positivo é que avise os colegas de trabalho, e essas pessoas procurem um atendimento individual se vierem a ter sintomas. A rotina dos colegas segue normal, redobrando os cuidados sempre”, explicou.

 

Descaso

A técnica em enfermagem relata que há preocupação devido à quantidade de pessoas que não está se cuidando, pois, a Vigilância Epidemiológica e o Sistema de Saúde não comportam todo esse fluxo. “Nós estamos aqui desde março trabalhando direto, não tivemos pausa, nem redução de horário, pelo contrário, porque é um momento que precisamos estar muito ativos, só que quando saímos daqui e vemos o centro lotado, os bares e BR lotados à noite, nos entristece muito, porque ver esse descaso tão grande, com tudo o que se está fazendo para prevenir… e daqui uns dias aqueles que estavam lá com certeza são os nossos pacientes”, ponderou.

Segundo Fernanda, outro fator preocupante também é o fato de que muitos jovens que não estão se cuidando acabam contraindo o vírus e passando para familiares que moram na mesma casa, muitas vezes de grupo de risco, que se tornam pacientes graves. “Hoje em dia a despreocupação do pessoal aumentou muito, e essas mesmas pessoas que não têm pressa para cumprir as medidas, são as mesmas pessoas que têm pressa pelo atendimento, e não tem como comportar todo esse fluxo, se cada um fizesse a sua parte, tivesse mais empatia, os números seriam diferentes”, afirmou.

 

Isolamento

Durante o atendimento para orientação, ainda é observada a situação de cada família, pois, de acordo com a técnica existem diversos casos, e assim como algumas famílias conseguem fazer o isolamento tranquilamente, outras não têm condições de se manter paradas por 14 dias.

“Eu identifico as famílias que terão essa dificuldade e entro em contato com a Assistência Social, que estão sendo nossos parceiros desde o início da pandemia, e passo o nome e endereço e a assistência providencia cesta básica e leva para essas famílias. Tem também famílias que as empresas prontamente se propõem a ajudar”, relatou.

 

Descumprimento das orientações

Assim como relatado por profissionais da Vigilância Epidemiológica na reportagem publicada na edição do dia 05 de dezembro, Fernanda relata que muitas pessoas deixam de seguir as orientações passadas, como a do isolamento até receber o resultado do teste.

“Muita gente quando eu ligo para dar o resultado não está em casa, pessoas que têm sintomas leves, ficam na dúvida e seguem a vida normal, só que quando recebem o resultado não estão em casa, assim como alguns quando vamos dar alta também não estão”, disse.

Fernanda destaca a importância de se atentar às orientações e cumpri-las, pois, com meses vivendo esta situação de pandemia dizer que não teve orientação é uma desculpa. “A orientação existe, é questão de compreensão e responsabilidade ao assumir o compromisso de se cuidar e cuidar do outro”, ressaltou.

 

Rotina

Atualmente os profissionais trabalham das 07h30 às 17h30 na Vigilância Epidemiológica, porém, por causa da demanda, horário de recebimento dos resultados e fluxo de atendimentos, acabam ficando no local até 21h, e seguem o trabalho em casa.

“É bem desgastante porque temos todos os pacientes que já estão positivos para controlar dentro nas nossas possibilidades de horário de atendimento e os novos positivos e negativos, nós temos um fluxo de ligações muito grande, além de estarmos ligando para os pacientes também recebemos muitas ligações, passam de 100 ligações diárias”, relatou.

A técnica conta que ainda realiza atendimentos do seu telefone em casa, pois com a pandemia o telefone privado passou também a ser um telefone de teleatendimento, tendo seu número muitas vezes repassado. “Já fiquei até 23h trabalhando, recebendo pedidos de informação, tentamos ajudar, mas também hoje precisamos de um pouco mais de respeito, estamos cansados, precisamos de um tempo de repouso, eu já cheguei a receber uma ligação 2h da manhã de reclamação, é bem complicado. Pedimos a colaboração do pessoal, esperamos que tudo passe”, disse.

A técnica ainda faz um apelo pedindo por mais compreensão, ao falar sobre as críticas que recebem, e relembra que os profissionais da saúde estão trabalhando incansavelmente para cuidar das famílias, mas também têm as suas famílias em casa para cuidar, também têm filhos precisando de assistência em aulas remotas, e precisam de um tempo de descanso com tanta demanda de trabalho.

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