O Estudo do Endividamento 2022, que é realizado anualmente, considerou os impactos da pandemia na vida financeira do consumidor. Entre os dados computados pela Opinion Box, responsável pelo levantamento em parceria com a Serasa, se destacam os efeitos emocionais causados pela inadimplência.
Estar endividado é motivo de vergonha para 88% das pessoas, com impacto na vida social (85%) e na concentração no trabalho (76%). O sono de 85% dos entrevistados está sendo afetado por causa das dívidas e seis em cada 10 pessoas ouvidas dizem ter sentido reflexo dos débitos no relacionamento com familiares e amigos. As dívidas impactam 62% do relacionamento entre parceiros.
“Infelizmente, o endividamento ainda é uma vergonha para os brasileiros, mas na maioria das vezes os débitos se acumulam por fatores externos à vontade do inadimplente” diz Diogo Meister, Gerente do Serasa Limpa Nome. “Mas não pode ser motivo de vergonha uma dificuldade que no momento atinge mais de 62 milhões de cidadãos de um país com 14 milhões de desempregados”, complementa Meister.
O desemprego ainda é o principal motivo de endividamento (30%) no Brasil, mas apresentou queda em relação ao ano anterior. Na sequência aparecem outras causas como “cobrança indevida” (16%) e “emprestar o nome” (11%). Já sobre os tipos de dívidas que os brasileiros já tiveram e não conseguiram pagar, o cartão de crédito segue sendo a principal (53%), seguido por lojas (34%) e contas básicas (32%).
De acordo com Matheus Moura, Gerente Executivo da Serasa, “o estudo mostra como o endividamento está atrelado às necessidades básicas do consumidor”. Os entrevistados afirmaram que 69% das suas compras no cartão de crédito, que é a principal causa de inadimplência, são de alimentos e supermercados (69%), seguido por compra de produtos – roupas, eletrodomésticos e outros (42%) e remédios e tratamentos médicos (41%).
Endividamento influi no estado emocional dos consumidores inadimplentes
A pesquisa do SPC Brasil revela que o endividamento é fonte de preocupação para praticamente seis em cada dez consumidores inadimplentes (57%), sendo que apenas um em cada dez (12%) não está apreensivo com a atual condição (preocupação baixa ou muito baixa). A angústia dos consumidores inadimplentes aumenta à medida que cresce o valor da dívida: 67% dos que devem R$ 5.000 ou mais estão muito preocupados, contra 47% entre os que devem até R$ 1.999. O financiamento de automóvel é a dívida que mais incomoda os entrevistados (73%), mas inúmeras contas em atraso também mostram percentuais expressivos, como as parcelas a pagar em cheque/ notas promissórias (66%), a conta de água/luz (68%) e a conta de telefone fixo/celular (67%).
O estudo indica que o endividamento está relacionado a uma série de sentimentos negativos, influindo no estado emocional dos consumidores inadimplentes. Praticamente a metade dos entrevistados (48%) garante sentir vergonha, enquanto 39% falam em insônia e 46% se dizem infelizes. As dívidas também resultam em queda na autoestima (43%) e deixam os entrevistados inseguros quanto à capacidade de pagamento (44%). A vergonha, a insegurança, a deterioração da autoimagem e a perda de sono, por sua vez, fazem parte de um contexto que acaba contribuindo para alterações de humor, tornando os inadimplentes relativamente antissociais: 44% relatam o sentimento de nervosismo/irritação/desespero, enquanto 33% andam mais irritados e têm feito agressões verbais a familiares e/ou amigos, mesmo que ocasionalmente.
Em alguns casos o transtorno causado pelo endividamento leva a consequências ainda mais graves: 18% dos entrevistados já praticaram agressões físicas a outras pessoas. E o estresse causado pelas contas em atraso resulta em outros danos colaterais diretamente relacionados à saúde: um em cada quatro entrevistados (26%) já descontou a ansiedade em algum vício, como cigarro, comida ou álcool, aumentando para 43% entre os pertencentes à Classe A/B. Além disso, 53% dos inadimplentes ouvidos garantem ter passado por alterações de apetite.
Mais de 6 mil pessoas foram incluídas, mas 8.000 saíram do registro do SPC
Um dado relevante registrado pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Livramento (CDL), por intermédio de sua parceria com o SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), sobre o número de inadimplentes em Livramento demonstra que a população vem tendo dificuldades para manter as contas em dia. Isso gera preocupação em âmbito geral. Os empresários preocupados, em função da potencial baixa nas vendas, o próprio consumidor – que fica limitado pela não obtenção de crédito e a economia, de forma global, que aponta desaceleração em seu giro, já que o não pagamento das contas implica em uma série de consequências para todos.
Segundo gráfico apresentado, entre o período de novembro de 2021 até outubro de 2022, foram realizadas 25.803 consultas, ou seja, pedidos de informações que as empresas associadas à CDL-SPC fazem com relação aos potenciais compradores, com a inclusão de 6.209 nomes no Serviço de Proteção do Crédito. Porém, no mesmo período, foram excluídos do serviço cerca de 8 mil pessoas. Na prática, a análise é positiva, pois o número de pessoas que voltaram a ter a possibilidade de acesso ao crédito foi maior do que o número de casos registrados como inadimplentes.
Especificamente, abordando a inadimplência, os registros apontam que os maiores índices foram verificados nos meses de janeiro a abril de 2022, atingindo as seguintes porcentagens: janeiro 32,58%; fevereiro 33,45%, março 31,56% e abril 33,14. Já os menores registros foram no período de dezembro de 2021, com 18,50%, e, em 2022 nos meses de maio 14,16%, setembro 17,69% e outubro 17,82%. Fora deste período, os índices de inadimplentes incluídos no Serviço de Proteção ao Crédito permaneceram na casa dos 20%.
O cenário econômico atual
A reportagem do Correio do Pampa conversou com a professora do Curso de Ciências Econômicas da Unipampa, Lucélia Ivonete Juliani, para que a mesma fizesse uma avaliação do cenário econômico brasileiro.
Lucélia Ivonete disse que o Brasil vive um momento de recessão econômica, pois “estamos com os preços dos combustíveis em alta e, por mais que pensemos que está baixando, seja, por retirada da alíquota do ICMS ou outra medida, eles vão continuar subindo, e isso impacta diretamente na inflação que embora tenha registrado queda nos últimos três meses tem a tendência de subir nos próximos meses. O nível de emprego embora tenha registrado índices animadores, está longe de resgatar todos os empregos que a pandemia “engoliu”. O programa de distribuição de renda também não está fazendo com que o nível de consumo aumente porque os produtos, principalmente da cesta básica estão muito mais caros. Todo esse quadro faz com que as pessoas escolham o que pagar para sobreviver e muitas vezes acabam na inadimplência. É necessária para a recuperação econômica gerar mais empregos e renda, além de fazer reformas do estado. Finalmente conclui-se que tem um Brasil antes e depois da pandemia, o de antes tinha problemas que no depois só se agravou”.
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