Com mais de 12 mil casos confirmados, Fronteira da Paz soma mais de 130 óbitos por Covid-19

Reportagem faz um balanço da realidade das duas cidades em relação ao enfrentamento do coronavírus
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Considerado inicialmente como um exemplo de prevenção e combate ao novo coronavírus, o Uruguai vive uma explosão de casos da doença e de mortes nessa que pode ser considerada a segunda onda da pandemia. O primeiro caso confirmado em Rivera foi registrado dia 03 de abril de 2020, já a evolução dos casos iniciou em novembro, sendo que agora pode ser considerado o pico de contágios no departamento.

Em levantamento realizado pela reportagem do Correio do Pampa esta semana, Rivera conta com aproximadamente 6500 casos confirmados de Covid-19, mais de 5 mil recuperados e 55 mortes.

Já do lado de cá da fronteira, há 6 mil casos confirmados, cerca de 5500 recuperados e 76 óbitos.

 

Confira no gráfico um comparativo dos casos registrados em Sant’Ana do Livramento e Rivera

Fonte: Prefeitura de Sant’Ana do Livramento e Sistema Nacional de Emergência (SINAE) do Uruguai

 

“Só a vacina vai nos tirar dessa situação”, destaca médica

Para entender e fazer um paralelo entre essas duas realidades, a reportagem conversou com a médica cardiologista Esther Olsson, que destacou as principais vantagens e dificuldades vividas pelas duas cidades.

A cardiologista Ester Olsson trabalha nos dois países, tendo atuado na linha de frente de combate à covid-19 no lado brasileiro até ser contaminada pelo vírus. “Depois que tive a doença, eu não quis voltar, optei por me preservar”, explicou a médica, que continua prestando atendimento clínico na Unidade Sanitária e nas ESF’s. Em Rivera, ela atua na policlínica cardiológica.

Vacinada no mês de fevereiro, Olsson se reveza nos atendimentos, sendo que dedica dias exclusivos para atendimento no lado uruguaio da fronteira.

 

Estudo aponta maior parte dos casos diz respeito à variante P1

Ester Olsson participou de um estudo que reuniu mais de mil profissionais da saúde de Rivera, desde o hospital público ASSE até as unidades Casmer e Comeri, que são particulares e que retratou a realidade vivida por esses profissionais durante a pandemia. De 100 profissionais que já tiveram coronavírus, 55% foram assintomáticos e não foram diagnosticados com a doença; 45% haviam sido diagnosticados com Covid (a maioria sintomática). “O pessoal com menos de 35 anos apresentou uma prevalência maior (10,3%) do que os com mais de 50 anos (6,3%), embora essas diferenças não tenham sido significativas. Médicos e enfermeiros apresentaram alta prevalência, 10% e 9,8%, respectivamente. O pessoal dos setores administrativo/direção e admissão/recepção, que em teoria tem menor risco de infecção, também apresentou uma alta prevalência: 9,8% e 10,3%, respectivamente. Auxiliares de enfermagem e pessoal de laboratório apresentaram menos prevalência: 5,6% e 4,5%, respectivamente”, detalha o comunicado.

Das três instituições de saúde, os 1.204 funcionários que participaram voluntariamente tiveram sangue coletado entre 8 e 16 de fevereiro. Além disso, responderam a um questionário para obter informações de interesse para a pesquisa. Por outro lado, é realizado outro estudo de seroprevalência, desta vez na população geral de Rivera, cujos resultados serão conhecidos em breve.

A pesquisa também apontou que Rivera é o departamento com maior incidência da doença entre a sua população. Está na zona vermelha de risco projetada pela Harvard University.

O trabalho foi coordenado com MSP, UDELAR, INSTITUTO PASTEUR, UTEC, INTENDÊNCIA DEPARTAMENTAL DE RIVERA, ASSE, CASMER, COMERI.

 

Casos confirmados

Sobre os casos de covid-19 na Fronteira, Olsson avalia que no Brasil há muitos casos represados. Em contrapartida, em Rivera são realizados mais de 1500 testes diários e os resultados são conhecidos mais rapidamente.

 

Aumento de casos

Ester Olsson atribui o pico de contágios registrado na Fronteira desde o mês de novembro às festas e férias, onde muitas pessoas descuidaram das medidas de prevenção. Outro ponto destacado pela profissional é que o período pós-vacina costuma apresentar pico da doença (mesmo caso da gripe), principalmente em profissionais da saúde, que estão em constante contato com o vírus. “Eu sempre trabalho com três ou quatro profissionais em Rivera e na semana passada, tinha apenas um. Os outros estão em casa, em isolamento”, frisou.

 

UTI’s

Em relação ao hospital Departamental de Rivera (ASSE), Ester comenta que todos os leitos de UTI (oito ao total) estão destinados a pacientes com Covid-19, e estão sempre lotados.

Os outros casos que exigem tratamento intensivo são removidos para Tacuarembó.

Sobre as diferenças estruturais dos hospitais de Livramento e de Rivera, Ester pontua que o hospital de Rivera está melhor equiparado, com equipamentos de prevenção. Por outro lado, a UTI da Santa Casa está melhor estruturada, já que oferece 10 leitos, dois a mais do que o hospital ASSE.

Em relação aos prontos socorros, ela ressalta que o de Rivera não possui falta de equipamentos, materiais ou medicamentos. Mas, em geral, as estruturas são bastante semelhantes, o que permite que médicos atuem nos dois locais sem problemas.

 

Mortes

Em relação ao número de mortes ser maior do lado brasileiro do que do lado uruguaio, a médica ressalta que há diferença na forma da contabilização dos óbitos. Enquanto no Brasil os óbitos são contabilizados para o município onde a pessoa morava, no Uruguai as mortes vão para o município onde ocorreu o óbito. Outro fator que contribui para o aumento do número de óbitos é a presença das variantes P1 e P2 do Sars-CoV-2. De acordo com o informe epidemiológico emitido pelo Departamiento de Vigilancia em Salud, División Epidemiología e Dirección General de La Salud atualizado dia 21 de março, dos últimos casos positivos, 80% se referem à variante P1 e 19% à variante P2. Apenas 1% dos casos se refere ao novo coronavírus original.

“Nós vemos isso dia a dia, muitos dos casos mais graves atualmente se referem a essas variantes”, completou.

O informe epidemiológico aponta, ainda, que do total de casos de Covid-19, 96,7% necessitaram de atendimento ambulatorial e 3,3% algum tipo de cuidado hospitalar, sendo que 0,9% do total precisou de internação na UTI.

 

Futuro

Em relação ao futuro, Ester Olsson diz não ter dúvidas que só a vacina irá nos tirar dessa situação. “Até ontem (segunda-feira), Rivera tinha vacinado 22% de sua população. Para que o vírus ‘pare’, precisamos vacinar 70% da população”, estimou, se referindo tanto ao Uruguai quanto ao Brasil. Segundo dados divulgados pela Prefeitura Municipal dia 18 de março, pouco mais de 6 mil pessoas já haviam sido vacinadas em Sant’Ana do Livramento, o que corresponde a cerca de 7,8% da população. Segundo dados do G1, até a última terça-feira, 8% da população brasileira havia sido vacinada com a primeira dose e 2,34% com a segunda dose.

A médica estima que até o fim de maio, todos aqueles uruguaios que assim o desejarem terão se imunizado contra a covid-19. Já no Brasil, país com mais de 200 milhões de habitantes, a situação é mais complicada. “Acredito que viveremos essa situação, do uso de máscara, distanciamento social e todos os cuidados até janeiro e fevereiro do ano que vem, quando mais de 50% da população deverá estar vacinada”, projetou.

 

RECORDE

Livramento registra 30 óbitos por covid-19 em março

Outro dado preocupante registrado em março pelo Município foi em relação ao número de óbitos por covid-19.

Ao longo do mês, foram registrados praticamente um óbito por coronavírus por dia, sendo que no dia 17/03 foram registrados três óbitos.

A imensa maioria dos casos se referem a idosos que já possuíam outras comorbidades antes de se infectarem com a Covid-19, mas esses dados não diminuem a dor dessas famílias que perderam seus entes queridos.

1°/03 – 47° óbito

02/03 – 48º óbito

07/03 – 49° óbito

10/03 – 50° e 51° óbitos

12/03 – 52° óbito

13/03 – 68° óbito (confirmado dia 24/03)

14/03 – 53° e 54° óbito

16/03 – 55° e 56° óbito

17/03 – 57°, 58° e 59° óbito

18/03 – 60° e 61° óbito

19/03 – 62° e 63° óbito

20/03 – 67° óbito (confirmado dia 24/03)

21/03 – 64° óbito

22/03 – 65° e 66° óbitos

24/03 – 69° óbito

25/03 – 70° óbito

26/03 – 71° óbito

26/03 – 74° óbito (confirmado dia 31/03)

27/03 – 72° óbito

27/03 – 75° óbito (confirmado dia 31/03)

28/03 – 73° óbito

31/03 – 76° óbito

 

TOTAL – 30 ÓBITOS

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