História

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A MORTE DE SEPÉ TIARAJÚ

Recebi um recorte amarelado pelo tempo de um velho jornal com a versão oficial da Prefeitura Municipal de Santo Ângelo sobre a vida de Sepé Tiarajú. Parte dessa versão darei a conhecer aos amigos leitores, e diz assim: “Uma dezena de soldados enfrenta-o, numa penetração ousada ao âmago das forças inimigas. Sepé luta como um ser sobrenatural. Mas chega-lhe, pelas costas, um dragão português,que lhe joga um golpe profundo de lança. Sepé abraça-se ao pescoço do cavalo, e tenta retirar. Cai mais longe, mas o inimigo persegue-o de perto. Cai, mas ainda distende o arco de guerra e atira uma flecha em plena face do dragão português. Tombado e ferido mortalmente, ainda lhe temem o braço vigoroso. o sangue lhe escorre aos borbotões pela ferida, empapando o chão que ele defende, embebendo a terra que ele ama, assinalando de rubro a porta dos Sete povos das Missões, onde fica sua cabana abandonada, e onde os campos das Missões, agora, serão presa fácil dos invasores. Governador Viana chega ao local onde o “entrevero” esmaece como a vida de Tiarajú, e, do alto da sela de carona bordada despeja sua pistola sobre o corpo quase inerte de Sepé. O cadáver de Sepé Tiarajú fora atirado, no fragor da batalha, entre árvores baixas e entrelaçadas de cipós. Pelos barrancos da margem direita, uma farândola desce sorrateira, compungida e macabra. São os soldados bárbaros de Sepé, que vem arrebatar do campo da peleja, o corpo do chefe. Numa rede de imbira levantam o corpo ensanguentado do primeiro caudilho das Missões. Levantam-se sobre os ombros de quatro guerreiros e caminham para as cabeceiras do rio pacífico e iluminado. Na margem do Vacacaí, a sombra do mais velho tronco, abrem profunda fossa, na terra que era deles, para entregar à natureza, o corpo robusto e ágil do guerreiro que não conhecera o temor e o perigo. Três dias depois, as legiões indígenas, desfalcadas, pobres de armas, abatidas pela tragédia que lhes roubara o chefe., descem, pelas dobras da coxibara de Caiboaté, como um ciclone que desabasse de surprêsa sobre os campos planos dos acampamentos ibéricos à margem do rio Vacacaí fere-se, então, a maior batalha da velha história. Quase dois mil índios, sob a chefia de Neenguriu – o grande chefe das tabas do Uruguai – lançam a última e angustiada tentativa de liberdade, contra as forças invasoras. A luta é decisiva e o avanço é mais um suicídio do que um ataque calculado. Gritam ainda o nome de Sepé. Quando o momento parece oportuno, os clarins aliados tocam ordem de carregar e um tropel bárbaro se desencadeia sobre o campo e um “entrevero” de corpo a corpo dá a lutas as proporções de uma batalha gigantesca. Quando as cargas cessam e os poucos esquadrões indígenas abandonam, à disparada, o tablado da carnificina, quase mil e quinhentos missioneiros rolam sobre a terra de Cai, boaté mortos em defesa da gleba nativa. Estavam abertas as portas dos Sete Povos das Missões….Assim morreu Sepé Tiarajú, que deu seu sangue e sua vida em defesa deste torrão missioneiro.

 

 

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