MARTIN FIERRO
Tive a oportunidade de estudar, em literatura, uma verdadeira obra prima Rio-platense, o poema Martin Fierro, de autoria de José Hernandez. No final do século XIX, Hernandez esteve refugiado em Livramento por questões políticas e revolucionárias, que abalavam a Argentina. Descobri, na biblioteca, um registro da mãe de Paulo Labarthe que menciona a presença de José Hernandez, sentado num banco na praça General Osório, escrevendo num caderno o início de sua obra. Voltando ao assunto; Hernandez define em seu trabalho o cenário da “idade de ouro” do gaúcho: a pampa sem aramado, nem fronteiras na qual podia cavalgar à vontade, bolear avestruzes e potros. Podia laçar e desgarrar gado “cimarron e alçado”, viver em absoluta liberdade e trocar de pago mesmo tendo que lutar, de vez em quando, com os índios. No Martin Fierro se fala intensamente do indígena, se descreve suas “tolderias”, sua vida em paz e na guerra, seus costumes, superstições e danças. Hernandes revela um conhecimento muito profundo do ambiente, os homens, as coisas que descreve. Os feitos históricos imediatos e os contemporâneos, a realidade, a pampa, os costumes e o saber tradicional, a fala popular e rústica, o caráter e os gêneros da vida do índio e do gaúcho e seu mundo, seu passado e o que viria a ser, foi abraçado pela vasta experiência de Hernandez. A estratificação de visão da sociedade; o gaúcho, o povo, o negro, o índio e o gringo. O interessante da história particular de Martin Fierro não é uma invenção fantástica de Hernandez; está baseada em fatos reais. Pois, o ambiente natural onde se desenvolve a ação do poema é a pampa bonaerense. A pampa é o cenário de Martin Fierro. José Hernandez não é só um poeta eminente com quem culmina o ciclo dos gaúchos tão execrado e perseguido. Hernandez é o exemplo único da literatura de ambos os lados do Rio da Prata. Ele como um autêntico “payador”, conheceu a pampa desde que nasceu, mergulhou nesse ambiente e se identificou com o gaúcho nas etapas de sua juventude, foi aprendendo, ao longo de sua movimentada vida e nos mais diversos ambientes e detalhes da tradição popular. O gaúcho ou paisano recebeu neste canto como uma expressão insuperável de sua própria voz, capaz de interpretar sua alma, de compadecer-se de suas desgraças e até assinalar um novo rumo de seu destino, a fim de não perecer na dramática encruzilhada histórica que estava atravessando. Descreve “la frontera”, a linha que separa os brancos das povoações e da terra indígena, os fortins onde são levados a força os gaúchos para servir no exército na luta contra os índios pampas. Portanto, se você quer conhecer a história dramática do gaúcho, do índio e da sociedade política do século XVIII, eu recomendo a leitura da obra.
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