História

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SOBREVIVENTES DE UMA RAÇA

Quando vejo descendentes de índios Guaranis, chamados bugres, vendendo nas calçadas seus artesanatos, vem a minha mente seus antepassados que dominavam o nosso território. Porém, seu desaparecimento começou com a tumultuada caça do gado na Banda Cisplatina e, pela proximidade de contrabando e comércio de couro que exercia, como não podia deixar de ser, poderosa força de atração sobre os habitantes primitivos do Rio Grande. Os índios passaram a confundir-se com toda a sorte de gaudérios e aventureiros que operavam naquela região. Pondo de lado as reservas indígenas segregadas nas Missões, que então se achavam sob o domínio da Espanha, os nativos que perambulavam pelos campos, matos e canhadas rio-grandenses, desgarrados de tribos já em desagregação, acabariam quase desaparecendo de nosso mapa demográfico. Sem contar com a população missioneira dizimadas pelas incursões paulistas levadas a efeito cem anos antes. Finalizado o capítulo das bandeiras, os jesuítas arrebanharam à margem oriental do Uruguai, grupos de guaranis que cruzaram o rio, de regresso ao Tape, eram apenas escarmentados sobreviventes de uma raça desbaratada. Outros fatores além dos que mencionei, iriam contribuir, em diferentes períodos, diminuir ainda mais as estatísticas da população indígena., como ser: as constantes guerras entre as tribos, a dispersão voluntária, a fome, as frequentes epidemias. Documentos jesuíticos registram que não estavam protegidos desses males. Nas expedições militares os soldados missioneiros eram a cada momento utilizados, já em remotas frentes do domínio espanhol, já contra luso-brasileiros ou contra o gentio rebelde. Também exigiam a constante e numerosa cooperação do braço guarani em pesadas obras, quase sempre de natureza estratégica, por ordem das autoridades espanholas. Quando o território das Missões passou para a jurisdição portuguesa, em 1801, já a população guarani se achava em franca decadência. Não obstante, as tentativas de reincorporação comandadas pelo índio Andresito Artigas (1816-1819) e as tremendas operações de retaliação pelo general Chagas Santos, custaram o sacrifício de grande massa de bugres nas duas bandas do rio Uruguai. E para consumar essa implacável obra de genocídio, teríamos em 1827, a incursão predatória do caudilho oriental Fructuoso Rivera, que arrasou consigo, além das riquezas das Missões e do gado que pode saquear, quase todos os remanescentes válidos das antigas reduções. Eu vi no campanário da Igreja de Paysandu o sino que Rivera trouxe do seu saque nas Missões. Nessa época a população indígena não ia além de 3.000, sendo que em 1801 quando os espanhóis foram expulsos havia uma população de 14.000 almas. O que sobrou de tudo foram ruinas humanas, bagaços de gente, farrapos humanos. Na altura de 1835, vagavam entre os escombros do vasto império missioneiro apenas 318 bugres. Nada mais restara dos Sete Povos. O que podemos dizer hoje?

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