Diálogo

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A raiz santanense

 

                O santanense se originou do gaúcho rio-grandense, originário da miscigenação de bandeirantes portugueses vindo de Laguna com os índios. Daí nasceu um povo forjado em lutas, guerras e talvez, com um senso de justiça incomum com o resto do Brasil. Nosso sangue é “caliente” e nossa paciência bem curta. A paz nestas “bandas” não tinha olvidado a guerra da Cisplatina e depois a Revolução Farroupilha e já estávamos engalfinhados em mais revoluções: a Federalista com os irmãos Saraiva e a de 1923. E tem sido assim, desde a própria colonização, ora defendendo, ampliando ou consolidando fronteiras, ora lutando pela República contra a Monarquia, ora peleando contra os ímpios injustos do Império brasileiro.

Para meditarmos sobre nossas pelejas, esse homem do campo superior ao tempo, este gaúcho mutante, que como tal, perde a sua alma ao ser levado à força para uma vida cruel nas periferias das cidades acenando suas dores. Eis então, que temos na literatura, poesia e na tradição uma legião de poetas, escritores e tradicionalistas, como o nosso taura Leço Branco, os manos Nelson, Luiz e Nelma Cardoso, Juliano Gomes, Adair de Freitas, o saudoso Lauro Simões e tantos outros… E lógico, o amado santanense mais famoso de todo Rio Grande: João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes, nasceu aqui em 12 de julho de 1929. Formado em agronomia, radialista, compositor e folclorista. Foi o gaudério que fundou o CTG 35 em 1948 (o primeiro centro de tradições gaúchas em todo o mundo) É um personagem decisivo da cultura gaúcha e do movimento tradicionalista no RGS, do qual foi um dos formuladores, juntamente com Luiz Carlos Barbosa Lessa e Glauco Saraiva. Juntos, partiram para a pesquisa de campo, viajando pelo interior, para recuperar traços da cultura do Rio Grande.  Serviu como modelo para a estátua “o laçador”, símbolo do RGS e, para a nossa maior reputação como fronteiriços, foi nomeado Patrono da Feira do Livro/2010 em Porto Alegre. Graças a ele, hoje o Rio Grande Canta e dança nossas tradições.

Outro gaúcho destas bandas que contribuiu muito com a nossa cultura fronteiriça é meu patrono na Academia Santanense de Letras, o quaraiense Cyro Martins. A leveza dos seus textos galopa sobre as ondulações das paisagens fronteiriças. Tudo o que ele escreveu é o que esta fronteira é. As sangas e os filetes de água que brotam das nascentes. E o vento… este minuano em nós não é meteorológico, é conivência, é o costume que encontramos para ouvir os sussurros das planícies e dos platôs, que se estendem como mesas para servir um banquete da nossa história numa toalha de mesa rendada com as cercas de pedras. Tudo isso não é só para enfeitar, é para celebrar a nossa amada coxilha de Sant’Ana, o meu, o nosso, amado chão.

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