Nosso farrapo de estimação
Mais do que em qualquer outro Estado brasileiro, guerras e rebeliões esculpiram o mapa do Rio Grande do Sul. A começar pela Revolução Farroupilha. Vejamos David Canabarro, por algum tempo, graças a uma intriga do império, foi considerado um traidor farroupilha, que entregou à morte centenas de negros dos Lanceiros Negros e brancos sob seu comando, na Batalha de Porongos. Walter Spalding, Achylles Porto Alegre e Ivo Caggiani, entre outros estudiosos sérios, encarregaram-se de desmentir essa versão. Quase ao final da Guerra Farroupilha, na Batalha de Porongos, Canabarro foi enganado por um certo Chico Pedro, oficial do Império, que nunca conseguiu derrotá-lo, e forjou uma suposta carta de Caxias, que sugeria o suborno de Canabarro. Foi enganado também pelo próprio Caxias, que deslealmente animou o ataque de Porongos, quanto Canabarro desarmava seus bravos para mostrar a disposição de paz. Mas também foi traído pelo seu irresistível espírito mulherengo, que o fez sucumbir à sedução da Papagaia, a encantadora mulher de um farmacêutico, que o encantou na véspera do ataque de Porongos. O general Netto resistiu como pôde aos imperiais, até Canabarro deixar os braços da Papagaia.
David Canabarro o talento de guerrilheiro, mesmo nascendo em Taquari, por amor, foi aqui que escolheu viver na filosofia da sombra invisível dos marcos. Foi o responsável pela tática que conseguiu prolongar a Revolução dos Farrapos por 10 anos: a guerra de movimento. Desde que Canabarro assumiu o comando das forças farroupilhas, até fins de dezembro de 1844, os revolucionários estiveram sempre em movimento – e muitas vezes em vantagem. Morivalde Calvet Fagundes, citado por Ivo Caggiani, referindo-se a esse período afirma: “Em 16 meses de Canabarro à frente das tropas farroupilhas, a revolução ganhou novo alento, o ardor da vitória de novo morando no coração dos rebeldes. Durante esses 16 meses, houve 21 combates, mais de um combate por mês”.
Nenhum farroupilha, exceto Garibaldi, tinha o seu talento para pensar a guerra como a arte do movimento. Quanto à sua honradez, é bom lembrar a recusa ao apoio do ditador argentino Rosas que se prontificou a fornecer armas e soldados para os Farrapos derrotarem o Império: “Senhor Rosas: o primeiro de vossos soldados que cruzar a fronteira, fornecerá o sangue com que assinaremos a paz com os imperiais.”
Memoravelmente, em 26 de agosto de 2008, 50 cavaleiros santanenses, marcham com os restos mortais de David Canabarro e chama crioula. Foram 18 dias e 600 quilômetros de cavalgada por 12 municípios. Por onde passaram, foram quatro dias de chuva, dois de descanso e uma bela recepção na fronteira. Tudo registrado em 46 posts na Zero Hora. A cavalgada foi marcada pela recepção na entrada da cidade em 13 de setembro, sendo colocada em uma charrete conduzida por dois trinetos de Canabarro. Cerca de 100 cavaleiros se juntaram aos que realizaram o translado, além de carros e caminhões que os seguiram pelas principais ruas da cidade, liderados pela Guarda de Honra da Brigada Militar. Finalmente, a urna é depositada em sua casa, envolta da terra de Taquari, em chão santanense que tanto amou. Sem dúvidas, é nosso taura farroupilha de estimação.
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