O sorriso na paz dos farrapos
Foi de encantar a felicidade das pessoas nos festejos farroupilha com mais um belo desfile. A derrota farrapa, para nós gaúchos teve sabor amargo, mas serviu como alento para analisar os porquês das falhas no intuito da nossa preparação para a história futura. Somos mais fortes do que pensamos e mais capazes do que acreditamos. Essa é a mensagem que capto no braço forte do nosso homem do campo, que mesmo atolado para salvar uma vaca, ri feliz pela natureza que Deus lhe confiou.
A guerra não foi perdida, foi aprendida, para entender o valor do amor do gaúcho pela honra, nativismo e trabalho, valores que lhe são caro, tão bem demostrados no canto, na dança e na alegria nos galpões. Quanto maior o sonho, maior é a devoção dos gaúchos pelo seu chão: dos pampas sem fim à serra com seus pinhais.
A paz assinada pelo Duque de Caxias com o nosso herói David Canabarro no tratado do Ponche Verde em 28 de fevereiro de 1845, não nos humilhou, não nos rendeu e não nos tirou o orgulho. Para nós foi uma trégua da palavra honrada, nunca uma derrota. Assim é nossa alma. Sempre enfrentamos o inimigo de frente, de pé e sem medo.
Nossa alegria feliz nesta data nos torna cada vez mais forte diante de um mundo globalizante que engole as culturas, monstro invisível, que se fere, mas não se consegue derrota-lo, só enfraquecê-lo para que ele desista de nós. Nessa luta, parte da população fugiu para outras províncias do Brasil nos nove anos, cinco meses e onze dias com empate técnico entre farrapos e imperiais. No balanço dos mortos: 1.826 farrapos contra 950 imperiais. Os números não importam, importa que lutaram por um ideal, essa é a nossa linhagem farroupilha. Não provoque um gaúcho, ele morre por um ideal. E essa é a beleza, morre uma vida para eternizar o espirito da coragem nas gerações subsequentes.
Em 1835, o Rio Grande do Sul era uma das mais atrasadas províncias do Império do Brasil. Somava apenas 160 mil habitantes, dispersos em 14 municípios. A maior das cidades, a capital Porto Alegre, tinha 14 mil moradores. A população era mista. Do total, 30% eram escravos e 12% indígenas: guaranis, charruas e minuanos. Nas vilas e cidades já havia estrangeiros: 6% de alemães, ingleses, franceses e italianos. Os gaúchos, na época, eram mal vistos, como vagabundos e foras da lei. Trabalhavam como peão de gado e iam ao front das guerras. Às vezes recrutados na marra pelos ricos proprietários das estâncias, normalmente oficiais graduados que recebiam grandes extensões de terras do imperador para garantirem a fronteira. Os farroupilhas não preferiam armas de fogo nos combates. Ficou célebre a frase do Coronel Antônio de Souza neto em 1836 ao liderar um ataque contra a força imperial de João da Silva Tavares: – Camaradas, não quero ouvir um só tiro! Seja a carga à espada e à lança! – Bradou!
Eis a nossa estirpe, fortaleza genética que nunca vão nos domar, de festejar cantando, sorrindo e dançando a beira do fogo de chão a felicidade de ser gaúcho.
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