De Palomas

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Godless, era uma vez uma cidade

 

A cultura é uma força estrutural enraizada em nós. A frase tem algo de pomposo. Outra vez: meninos costumam ter o faroeste na alma. De tanto olhar quando criança. Funciona como uma porta para a infância. Trata-se de um gênero quase imutável no qual tudo converge para o duelo, assim como na novela tudo flui para o beijo. Nada mais difícil do que inovar no faroeste. Tem uma série da Netflix, “Godless”, que realizou a façanha. Qual a novidade? As mulheres. Os homens da cidade morrem numa mina e elas ficam no comando, à frente de crianças, de alguns velhos, de um jovem e de um xerife com problemas de visão de autoestima. O resultado é maravilhoso.

 

Não deixa de ser uma história de homens na medida em que o grande conflito é entre o mal (o grande bandido Frank) e seu “filho adotivo” Roy. Tem as tradicionais imagens de solidão, belas paisagens, homem que perde sua sombra, conflitos étnicos e mortes em profusão. Mas tem também paixões, amores homoafetivos, mulheres certeiras nos tiros, ciúme e uma bela assaltando o coração dos dois heróis. O mais heroico, por uma noção extremada de honra, abrirá mão do amor em benefício do justo. Algo assim. São sete capítulos de atualização de uma perspectiva encravada nos seus conceitos, preconceitos e amarras. Muda o ponto de vista. Outra lente. Um universo se abre ao espectador, que faz comparações incessantes com os clássicos do passado, do seu passado de homem do Oeste em cavalo de pau.

 

Godless é uma história para meninos e meninas que não querem mais viver na caixinha genérica. Ou como na construção de uma lenda é preciso que todos se unam para enfrentar o perigo em comum. Diante da barbárie e da morte é fundamental se proteger e manter o foco. A Alice e Mary Agnes, personagens de Godless, são figuras sublimes desse novo Velho Oeste. Ao final, Roy mata Frank num duelo. Algumas marcas custam a ser apagadas.

 

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