De Palomas

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Revolução 5G

 

O mundo está mudando de novo. É a revolução 5G. Talvez se possa falar em Geração 5G ou em Era 5G. Quantas revoluções temos visto na vida? Eu vi três gigantescas: o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a informatização da vida cotidiana e o surgimento e explosão da Internet. O mundo nunca mais foi o mesmo depois do aparecimento dos computadores, da invenção da teia WWWW, das redes sociais, dos aplicativos, dos celulares e da cibercultura.

É moeda nova, sem emissão governamental, e formas diferenciadas de organização do trabalho e de contratação de serviços. Não perderei tempo listando o que todos sabem e usam. Enquanto um tal Francis Fukuyama falava em fim da história, dávamos saltos históricos. A tecnologia 5G é uma aceleração vertiginosa. Paremos um pouco para fazer perguntas: estamos mais inteligentes, mais coletivos, mais livres, mais sábios, mais autônomos, mais ricos, mais solidários? Qualquer que seja a resposta, não há como retroceder. Mais mudanças virão: boa parte das atividades hoje feitas por humanos será realizada pela inteligência artificial. O momento da renda universal para que sejamos consumidores, com muito templo livre, virá. Será a revolução do pós-trabalho. Novas profissões não param de surgir.

Não sei que profissão exercerei aos 80 anos. Espero que até lá as mudanças sejam ainda maiores e surja algo inesperado. Tenho esperanças de que o mundo 5G seja mais poético e menos utilitário. Se teremos cada vez mais tempo livre, por que não o gastar simplesmente vivendo? Falo como se eu soubesse fazer. Viver é muito difícil. Mais fácil é trabalhar, quando se tem emprego, para não pensar na vida. Dei uma longa entrevista, para um documentário, sobre Belchior. A pergunta incontornável: por que ele largou tudo? A minha hipótese é categórica: para tentar apenas viver. Foi um homem 5G antes da hora.

Acredito que a tecnologia não é neutra. Será impossível levar uma vida pré-5G quando o 5G se tornar dominante. Como sempre, claro, existirão muitos excluídos. Mesmo eles, porém, serão atingidos, assim como fomos todos pela água encanada e pela energia elétrica, pelo novo patamar tecnológico. Estou usando o 5G de modo amplo, genérico, como metáfora à mão dos saltos que não param de acontecer. Nunca me esquecerei que no começo de 1989 só se falava em marasmo e tédio. Nenhuma novidade em grande escala parecia possível. A pizza, no entanto, já estava embalada para entrega. Cortei os cabelos e mudei. Está na hora de deixar os cabelos crescerem para mudar de novo.
A tecnologia 5G só não poderá substituir a graça de uma história bem contada. Aí é melhor ler as 40 crônicas de Sergio Faraco envelopadas com o título “As noivas fantasmas & outros casos” (L&PM). Faraco recebe hoje, junto com Gilberto Schwartsmann, Luís Gomes (editora Sulina) e Clara Corleone, o troféu Jacarandá, atribuído pelo Correio do Povo. Ele é o que se chama de exímio narrador. Estica a corda, domina o tempo dos acontecimentos e economiza nas palavras. No 5G tudo será tão rápido que o leitor não perceberá a falta de transição. Então eu serei pássaro, idoso, poeta e talvez jóquei.

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