UMA GUERRA DE RECURSOS
Invadir um país sem conhecer seu território é um grave erro que pode levar a um fracasso militar sem precedentes. Foi o que aconteceu com o retorno ao Rio Grande, do Exército Pacificador de Diogo de Souza, acampado em Paysandu após invadir a Banda Oriental em 1811. Em 13 de junho de 1812, levantou acampamento e iniciou sua fatídica marcha. No livro Tempestade sobre o Rio da Prata, está registrado o que relata os manuscritos da época: “Os revolucionários de Artigas, continuam repetindo a mesma tática de dar sumiço em todo o gado, selvagem ou não, que vagasse pelas proximidades do itinerário do “Pacificador”. Procuravam reduzi-lo a fome para apressar a sua retirada. Diogo de Souza iniciara a marcha 8 dias antes da entrada do inverno. Um vento minuano furioso soprava dia e noite. Os catarinenses de infantaria e originários do litoral, e uma parte da Legião de São Paulo, morriam como moscas, de fome e de frio. Manoel Almeida pintou em poucas frases quadros tristes:” No caminho sucumbiu à mingua o cadete Manoel da Costa Fraga. Dia houve que o regimento de barriga-verdes (catarinenses) marchou nove ou 10 léguas sem alimento algum, tendo quebrado o jejum no dia seguinte, depois de outra tremenda marcha, com carne simples, magra e tanto quanto pode dar um boi repartido por 750 homens famintos’. O exército terminou acampado nas pontas do Cunháperú (Rivera). Os campos estão entremeados de matos e rincões. Almeida diz que nesta região os jaguares eram numerosos, e os soldados matavam a fome comendo “carne crua desses animais”. Os jaguares vinham acompanhando o exército há dias, para devorar os retardatários e os enfermos, junto com bandos de guaraxains. Os jaguares rondavam, em grupos de uma dúzia ou mais, os soldados que vinham a pé. Eram afugentados com boleadeiras pelos soldados e terminavam mortos a golpes de sabre. Com a retirada do gado da campanha ordenada por Artigas, não só os soldados do Diogo de Souza foram privados de alimentos, como também os tigres, porque a carne é o principal alimentos deles. Na falta de gado os tigres famintos atacavam os soldados do “Exército Libertador”. Para salvar seu exército de extermínio pela fome, ele expediu um piquete, dividido em duas patrulhas, para arrebanhar gado onde fosse possível encontrar. No quarto dia reapareceram com uma pequena ponta de gado. Assim salvaram o “Pacificador” de morrer de fome. Foi um retorno desastroso. Diogo de Souza talvez tenha sido o único general que invadiu um país por um lado, percorreu-o de ponta a ponta, e saiu pelo outro completamente destroçado, sem ter travado uma batalha com o inimigo. Foi vencido pela astúcia de um exímio guerrilheiro, José Gervasio Artigas.
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