Diálogo – 05/12/2020

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Adeus comunistas

O que mais se viu nas redes sociais ao findar as eleições foi: “adeus comunistas”. Dada a temperatura de uma eleição é bom esclarecer que o comunismo de fato nunca existiu, o fascismo e o nazismo, sim. O PT, PC do B, PCB, PSOL e todos os demais partidos socialistas estão do lado humanista da política. Nada a ver com regimes totalitários. Essa é a grande fronteira. Esse é o grande muro que devemos demolir por falta de informação.

A extrema-direita populista tem crescido um pouco nos últimos anos em todo o mundo, com maior sucesso nos EUA com Trump, no Brasil com Bolsonaro, na Hungria com Orbán ou nas Filipinas com Duterte. Mas também em França com Le Pen, em Espanha com o Vox ou em Itália com Salvini, este movimento internacional vai tendo poder e criando impacto mediático e político. E caso o povo se sinta enganado, a esquerda volta com força de novo. Os movimentos da extrema-direita populistas caracterizam-se por escolher alguns problemas específicos da sociedade onde operam, prometendo soluções fáceis, milagrosas, para questões muito complexas. O simplismo no discurso, os dotes de oratória dos líderes destes partidos, a invocação da religiosidade mais fundamentalista e as campanhas fakes bem estruturadas nas redes sociais acabam por mobilizar certo eleitorado. A verdade é que nada disto é novo. Nos inícios do séc. XX, estes mesmos ardis foram usados para implantar o fascismo e o nazismo na Europa, que vieram a ter as consequências trágicas que as duas grandes guerras mundiais e o holocausto comprovam.

O discurso que hoje os partidos da extrema-direita populista usam, demonizando os islâmicos, os ciganos, os homossexuais, os comunistas, os imigrantes, os progressistas, os ateus, os africanos ou até a ordem econômica mundial, são um claro decalque do que fizeram os fascistas e os nazistas. Só falta o espezinhamento dos judeus. E é aqui que se traça uma fronteira intransponível ao nível de comparações ideológicas entre extrema-direita e comunismo. É que a extrema-direita é, ideologicamente, segregacionista, supremacista, racista, não humanista e antidemocrática. O comunismo é caminhar para uma sociedade onde cada um contribua consoante as suas possibilidades e usufrua consoante as suas necessidades. É um humanismo puro, bem cristão, até.

Acontece que todas as experiências do dito “socialismo real” descambaram em sistemas autoritários, não democráticos, militarizados e policiais, pouco capazes economicamente e muito corruptos. A Rússia feudal, agrária e czarista virou URSS à custa de invasões e de um regime ditatorial, sem nunca ter sido comunista. O mesmo se diga da China, de Cuba ou da Coreia do Norte (que mais não é que a única monarquia absolutista em pleno séc. XXI).

Embora alguns partidos de esquerda preguem ingenuamente o anticapitalismo, o qual a China (Capital de Estado) nem mais acredita, basta ter um mínimo de leitura de Marx para se perceber que o comunismo só pode acontecer após uma profunda maturação do capitalismo a nível mundial, isso viria numa ataraxia (filosofia helênica da tranquila e serena felicidade obtida através do domínio das paixões), algo muito longe de acontecer. No passado, existiu Estalinismo, Maoismo, Pol Potismo, Castrismo ou Ceausesquismo, mas nunca o comunismo. Com o “adeus aos comunistas”, embora alguns sonhem, nunca existiu.

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