Diálogo

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Estância e memória a David Canabarro

Sant’Ana do Livramento nasceu sob o signo da estância, teve sua origem legitima baseada na sua economia pastoril, e sua vida sob os braços da cruz. Resistencia pela fé foi para os primeiros estancieiros afrontarem as invasões espanholas. Graças a eles, hoje nosso município possui uma área invejável de 7.365 km², que se perdem de vista em lindas história.

Dessa cultura de vida rudimentar nasceram nossos heróis de todas as matizes filosóficas, militar e bagual. E a lista não é pequena… Vou me ater ao David Canabarro, santanense, não de berço, mas por escolha do amor a este chão. Vejo com tristeza que que sua memória não é valorizada, e até desrespeitada por alguns, tudo por uma história polêmicas que distorcem e julgam com valores modernos, sabe-se lá por qual finalidade. Ele pendurou medalhas no peito por méritos, mas também colecionou acusações contra si: Em 1839, durante a ocupação de Laguna, teria ordenado castigar o povoado de Imaruí e liberado o saque, o que resultou em abusos contra civis. Em 1844, teria orquestrado o massacre dos lanceiros negros farroupilhas, na batalha do Cerro dos Porongos. Ninguém duvidaria da bravura de Canabarro. Nem todos a aprovariam sem ressalvas. Ivo Caggiani outros historiadores como Walter Spalding e Achylles Porto Alegre, sempre discordaram da versão de que Canabarro tivesse traído os lanceiros negros para acertar a paz com Caxias.

David Canabarro era militar por vocação. Lutou nas campanhas contra os espanhóis em 1811, 1812, 1825, 1827, quando chegou a tenente. Depois na Revolução Farroupilha. E não parou mais: combateu contra o ditador argentino Juan Manuel de Rosas (1851-52), comandando a Divisão Ligeira, e na Guerra do Paraguai. Foi um herói. Se tornou fazendeiro em 1834, ao comprar a Estância da Alegria em sociedade com o tio Antônio Ferreira Canabarro. Não costumava se abrigar entre as muralhas dos quartéis, preferia as amplidões das planícies, talvez se sentisse mais à vontade os pequenos lobinhos do Pampa. Terminada a Revolução Farroupilha, comprou a Estância São Gregório, em Livramento, junto aos campos onde fazia manobras com suas tropas durante a guerra civil.

Enfim, há muito para contar… Mas nada justifica o descaso que temos com Canabarro. No livro Translado de David Canabarro por Edilson Viliagran Martins, que recebi dele há poucos dias, conta muito sobre a saga desse translado pela guarda de honra da Brigada Militar e depois por um grupo de tradicionalistas santanense e o revezamento dos cavalarianos a cargo dos CTGs das cidades por onde cruzava. Cerca de 20 integrantes do Grupo Santanense de Cavalgada liderados pelo Villagran percorreram mais de 500 quilômetros a cavalo escoltando a urna e a centelha da Chama Crioula.

Foi uma homenagem muito linda e emocionante, pena que a casa que Canabarro habitou na cidade, hoje museu, e que agora descansa seus restos mortais não está tendo a atenção necessária. Eu e o Edilson Villagran, que foi responsável pelo translado dos restos mortais do Canabarro fazemos um apelo para que todos restaurem e cuidem dessa honrosa história rio-grandense como uma estância fortificada.

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