História

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A LEGENDA DE UM HERÓI

 

Tive a oportunidade de conhecer, na cidade de Sauce, Departamento de Canelones, a casa do General José Gervasio Artigas.  O prédio faz parte do Patrimônio Histórico do Uruguai e nele funciona um museu. Bem, procurei descobrir alguns dos últimos momentos de Artigas. Após ser traído pelos seus homens de confiança principalmente a do Coronel Ramires, seu braço direito, Artigas aguardava uma resposta da atitude de Ramires. Um relato diz: chegou a Mandisovi a sua mulher, a paraguaia Melchora Cuenca, de esplêndida beleza. Acompanhava-lhe os dois filhos, Santiago e Maria. Vinham de Queguay a chamado dele, num velho “coche” puxado por uma parelha de cavalos, dirigido por um preto, ex-escravo da família. Melchora conhecia a situação atual do marido. Sabia que sua luta estava no fim.Talvez até tivesse desejado este fim, na esperança de poderem viver juntos em algum rincón afastado, cuidando dos filhos. Ele estava com 56 anos, ela bem menos, e não pretendia mais separar-se dele. Vinha para ficar. Ela não sabia que se avizinhava a luta com Ramires. Quando Artigas pôs Melchora a par de tudo, não se abalou. Era uma mulher corajosa, como eram as mulheres naquela época. Filha de espanhol com uma índia guarani, a mescla que produzia heróis e heroínas anônimos às mãos cheias. Ela o acompanharia assim mesmo. Mandaria os filhos de volta para a estância. Artigas procurou fazê-la compreender que agora era a separação definitiva. Vitorioso ou derrotado, a Banda Oriental estava interditada para ele, assim como Corrientes, Misiones, ou Entre Rios. Tinha perdido o seu exército e a sua pátria. Buenos Aires e os portugueses não tardariam em aparecer ali para consumar a sua destruição. Teria que emigrar fatalmente; talvez para o Paraguai do dr. Francia (Presidente) Ela viu nessa situação mais um motivo para acompanhá-lo, pois era a terra dela. Artigas ponderou-lhe serenamente – ele era um homem naturalmente sereno no trato com as pessoas – que isso seria impossível. O dr. Francia tanto poderia recebê-lo bem, como poderia mandar atirá-lo num calabouço ou matá-lo. E o que seria dela e dos filhos? Deveria voltar para a estância do Queguay, que estava em nome dela e de Santiago e Maria. Teriam o suficiente para viver. Assim decorreram os dias em Mandisovi naquela paisagem calma e sombreada. A primeira esposa de Artigas, Rafaela Rosaria, enlouquecera. Ainda vivia em Montevideo, com o filho José Maria, de 15 anos, e mãe, tia de Artigas, pois eram primos. O pai, velho Martin Artigas, com 86 anos, continuava morando no mesmo casarão das margens do Gasupá, a antiga estância dos Artigas. Enquanto Melchora vigiava os filhos que corriam à sombra das árvores, Artigas, sentado num cepo, fazia um balanço final dos seus atos, desde a deserção do quartel dos blandengues em Maldonado, há 10 anos. Reviu a luta contra os espanhóis, contra os portugueses e rio-grandenses e portenhos. Dez anos de guerras e revoluções, com raros momentos de paz. Quantos tinham aparecido e desaparecido nesses anos?” Bem, ainda teria Artigas que enfrentar a perseguição do agora General Ramires, em vários combates e após várias derrotas e não mais desejando lutar, no dia 5 de setembro de 1820, ele atravessou o Paraná somente com uma “jaqueta colorada e um alforje” e entregou-se a guarda do dr. Francia. Acompanham-no Matias Abacu, o negro Joaquim, o sargento Ledesma, (o fiel Ansina) e 80 indios, homens, mulheres e acrianças que form distribuidas pelos paraguaios nas diversaa guardas do distrito de Campo Grande. Assim, terminou a epopeia de um grande herói.

(Pesquisa: Livro “Os Vargas” de Rubens Vidal Araujo)

 

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