Percepções

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Os Crimes hediondos de Dom Philips e Bruno Pereira

                                     

      Por Rubens Barros

 

Começaram entrando numa área ambiental da floresta “sem licença“ e depois se expuseram a bandidos que prévia e sistematicamente os ameaçavam de morte. E o que faziam para serem “mal vistos” na região? Denunciavam garimpos ilegais, pescas industriais em áreas proibidas e ação do tráfico internacional.

Dois idealistas que se jogavam num lugar belíssimo, mas selvagem.

Conheci há poucos meses a Amazônia. De início até duvidei se seria um bom programa. Mas achava que bom ou ruim não deveria deixar de conhecer esta grande área do meu país.

Foi um programa inesquecível. A beleza natural te cativa à primeira vista. O deslocamento por estradas (verdadeiros túneis abertos na mata virgem) e o contato com aquele mundo bravio formado por mata e água, te coloca em outra dimensão. Depois o encontro com as populações indígenas e ribeirinhas, suas simplicidades, carências e fragilidades comovem até as almas empedernidas.

Enquanto navegava naquelas lanchas pelo leito dos rios, imaginava a chegada dos europeus e seus encontros com as civilizações que ali habitavam, a maioria ingênuas e curiosas. Mal sabiam que aqueles que se intitulavam “descobridores” ali estavam não para compartilhar nada, mas sim para saquear, matar e tornar escravos os seres que viviam livres na natureza.

E hoje vendo-os e conversando com alguns podemos entender como foi fácil apoderarem-se de suas terras. São ingênuos e ignorantes do nosso ponto de vista. Vivem e convivem com a natureza, com seus ensinamentos e fantasmas. Um convívio tão estreito com os rios, as árvores e os animais que é difícil separar um do outro.

E as comunidades ribeirinhas?  A maioria descentes dos índios, que foram se mesclando e tornaram-se uma espécie quase como identidade própria. Mas organizadas, sabendo o que querem. Certamente sem condições de viverem economicamente as suas custas.

Curiosamente tivemos notícias de várias pessoas de lugares distantes que se desfizeram de tudo para lá morar.

Vejo histórias de que estrangeiros estão na floresta para explorar e até roubar produtos oriundo das florestas. Não é de admirar. Quem tem uma joia e não cuida, outros se apropriam, tal qual uma casa, um terreno ou outra propriedade qualquer.

Olhando hoje aqui de longe a tragédia que se abateu sobre a vida do jornalista inglês e do indigenista me marca de profunda tristeza, saber que aqueles que isolada e heroicamente defendem uma das maiores belezas do mundo estão a mercê de bárbaros bandidos. E a pensar porque o Brasil ao longo de todos estes anos desde a invasão a partir do “descobrimento” virou as costas e abriu mão de uma de suas maiores riquezas.

Que bom seria que os indígenas que quiserem viver com a nossa cultura, sejam integrados e aqueles que preferem viver na natureza tenham garantidas as suas opções.  Perguntei o nome do cacique de uma tribo que conheci. Disse-me que era Okaná (ou coisa parecida), nome dado pelo seu pai, mas que o padre o tinha batizado de Inácio. Não me contive: “Cacique teu nome é o que teus pais te deram. Esquece o Inácio”. Respondeu-me com um largo sorriso de satisfação.

Chega de impor cultura e opção religiosa sob espada.  Para mim, a Amazônia foi um grande ensinamento de vida, uma passagem por um verdadeiro santuário.

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