Santanenses destacam a importância da data e relatam suas experiências

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Nesta sexta-feira (25), foi comemorado o dia Nacional do Orgulho LGBTQI+, uma data de suma importância que levanta a bandeira da luta pelo reconhecimento dos direitos civis das pessoas LGBTQ+. Em razão disto a reportagem do Correio do Pampa conversou com os santanense Lucas Fernandes de 25 anos e Julia Lacerda de 23 anos, que contaram sobre os obstáculos e aprendizados que passaram ao se assumirem para a sociedade.

Lucas Fernandes

Ele contou que se assumiu muito novo, quando tinha de 13 para 14 anos, porém comparado com outras histórias não foi muito difícil, mas a sua relação com os pais, principalmente, com o seu pai ficou um pouco abalada.

“A gente ficou quase um ano sem se falar e morávamos na mesma casa, já a minha mãe achou que era uma fase, inclusive ela tentava arrumar namoradinhas para mim. Mas a questão mais complicada foi na escola e comigo mesmo, já que isso acontece com todo mundo que se assume, porque surgem várias perguntas sem respostas e naquela época não tinha muito acesso a informação, como hoje em dia, então a gente não tinha outras pessoas para servir como inspiração, como existe hoje com a Pablo Vittar e Glória Grove, além disto ultimamente o assunto é falado sem muitos tabus”, citou.

Segundo ele no início não sabia como lidar com isso, pois teve contato a vida toda com pessoas heterossexuais, então para ele o certo era ser o casal hétero, homem e mulher.

“O mais complicado foi me entender. Além disto na escola entra a questão das relações com outras pessoas, porque você não sabe como se portar e se o seu comportamento vai gerar uma ação, então se você é muito afeminado o seu comportamento não é muito bem visto, e eu sempre fui uma criança afeminada, sempre gostei de dançar, tive franja, era emo e tinha o cabelo colorido, então era um prato cheio para chacota”, relatou.

Ele explicou que foi ter contato com pessoas do público LGBTQI+ na sua adolescência, já que sempre era o único gay nas escolas que frequentou, e não tinha amigos, só foi ter amigos depois, com 15 para 16 anos e através dele outras pessoas se assumiram na sua escola. Lucas falou que hoje em dia trabalha como Verona Moon, fazendo performance em vários locais, como em casamentos e festas de 15 anos, mas ele realiza mais performances em baladas e teatros.

“Na questão drag tudo iniciou em Florianópolis, Santa Catarina, quando eu estava dançando, porque eu tinha um projeto que eu dançava na rua para arrecadar dinheiro para algumas instituições carentes e eu fiz isso aqui em Livramento também. Então eu realizei duas ou três ações destas no centro de Florianópolis e numa dessas ações uma dragqueen chamada Conchadóris me convidou para uma festa para eu performar, mas eu expliquei para ela que eu não era drag e que eu só dançava de Lucas e dançava stiletto que é a modalidade de dança de salto alto, além de explicar o projeto. Neste momento eles me colocaram como atração especial e foi aí que eu tive o meu primeiro contato com a arte drag, já que nunca tinha visto uma drag na minha vida, então foi um amor de primeira”, explanou.

Segundo Lucas na época ainda era muito misturado dragqueen, transexual e travesti, porque parecia que ele estava querendo virar uma mulher, então os seus pais se assustaram no início, porque achavam que o Lucas ia ser a Verona 24 horas, sendo necessário explicar para eles que Verona era somente uma persona sua que colocou para fora e que continuaria sendo o Lucas.

“O dia nacional do orgulho LGBTQI+ é importante para que a gente possa reafirmar que estamos vivos e resistindo, apesar do Brasil liderar o ranking de país que mais mata LGBTQI+ no mundo. A gente tem que bater no peito e se orgulhar do que a gente é, da nossa trajetória, do que vamos conseguir e do que já conseguimos, então é importante que este dia aconteça e que nos orgulhamos dia após dia” citou.

Julia Lacerda

Julia destacou que foi bem complicado quando se assumiu, porque a sua família jamais imaginou ter alguém transexual na família. Segundo ela, primeiro se assumiu para os seus primos e depois para os seus pais, mas para o seu pai foi bastante tranquilo, já para a sua mãe foi bem mais complicado.

“A minha mãe sofreu um pouco com a situação, mas hoje em dia toda família me acolhe e me aceita, além disso somos muito felizes, porém isso demandou tempo e paciência”, citou.

Ela explicou que os seus amigos e familiares sempre lhe apoiaram em tudo, e teve o apoio de todos e que não pode reclamar, porque sempre foi ouvida e bem acolhida.

“Acho que o maior obstáculo que passei até agora foi a mudança dos meus documentos, certidão de nascimento etc. Graças a Deus já consegui alcançar esse objetivo, mas acho que o desafio no momento será me inserir no mercado de trabalho, porque muitas vezes para as pessoas transexuais e travestis, ainda é bem difícil ser aceito”, destacou.

Ela relatou que o dia nacional do orgulho LGBTQI+ é muito importante, porque é um dia para que pessoas como ela possam ser vistos e ouvidos.

“Esse dia é importante para a sociedade ver que a gente existe, e que temos direitos como qualquer pessoa cis (pessoa que se identifica com o sexo biológico) e hétero tem, que somos seres humanos como qualquer outro e merecemos ter respeito amor e acolhimento, por onde passarmos”, falou.

Julia explicou que acredita que sempre haverá pessoas más no mundo e o preconceito infelizmente ainda é muito grande, pode não parecer, mas ainda existem agressões e assassinatos de pessoas lgbtqia+, mas tem a esperança que com o passar dos anos isso mude, porém acha que ainda existe muito preconceito.

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