No mês da Conscientização Mundial do Autismo, profissional esclarece dúvidas sobre Transtorno do Espectro Autista

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O mês de abril é marcado pela Conscientização Mundial do Autismo, e para conhecermos um pouco mais sobre o Transtorno do Espectro Autista, a reportagem entrevistou a Psicopedagoga Titular da ABPp e especialista em TEA/Testagens, Luciana Viecelli.

Luciana Viecelli explicou que o indivíduo com autismo apresenta déficits persistentes na comunicação e na interação social em múltiplos contextos. Apresenta déficits na reciprocidade emocional, dificuldades para estabelecer contatos, manter conversas, comunicação e comportamentos repetitivos e restritos. O TEA, apresenta estas características que são essenciais ao diagnóstico, ainda que os sintomas variem de caso a caso, bem como os níveis de gravidade.

 

Comentários acerca do Transtorno do Espectro Autista

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos que conduz pesquisas, no documento de 2021, atualiza a prevalência crescente do Transtorno do Espectro Autista (TEA), apontando que atualmente há 1 (uma) pessoa com autismo para cada 44 (quarenta e quatro) indivíduos[1]. Baseado neste aumento significativo, profissionais da área da psicopedagogia foram em busca de informação e atualização, devido à necessidade de atendimento e acolhimento deste indivíduo e sua família.

O autismo como uma condição neurológica costuma apresentar-se com diferentes características e nuances e, por este motivo, muitas vezes é empregada a afirmação: Todo autista é único. Mas é importante ressaltar que mesmo que este transtorno tenha seus critérios para diagnóstico, é papel da família, dos profissionais e da sociedade, enxergá-lo como um indivíduo único, regente de sua própria história e com características particulares que compõem a sua identidade, independente de diagnóstico. Dessa forma, o indivíduo não se resume ao diagnóstico, sendo este apenas parte dele.

 

Em busca do diagnóstico

A peregrinação dos pais e familiares inicia-se quando percebem que algo no desenvolvimento de seu filho(a) não está ocorrendo como deveria. Quando seu filho(a) costuma não atender a chamados, interessa-se demasiadamente por algum objeto ou apresenta um interesse particular, por vezes ignoram ou não procuram um abraço ou aconchego dos pais (variando muito de indivíduo para indivíduo) e apresentam um atraso na sua linguagem. Lembrando que linguagem aqui refere-se a um conjunto de sinais de comunicação que iniciam lá na história do bebê, os quais poderíamos citar olhares, resposta a sorrisos, respostas a sons de linguagem familiar, balbuciar, produzir pequenas silabas, apontar para solicitar, entregar objeto e verbalizar propriamente dito. Mas a preocupação maior dos familiares (e observo muito na minha prática) e que acende o sinal de alerta, é realmente a ausência de verbalização.

A partir desta preocupação, que pode ser levantada também pela escola e por profissionais de educação, iniciam a busca de respostas.

Podem serem feitas por profissionais capacitado testagens cientificamente comprovadas que levantarão a hipótese do provável transtorno bem como grau de acometimento. Mas o diagnóstico deve ser feito por um médico, de preferência por um Neuropediatra ou psiquiatra infantil, no caso de crianças e que solicitarão alguns exames necessários ao fechamento do quadro. Após a confirmação do diagnóstico os estudos mostram que muitas famílias reagem negando, outras procurando atendimento, mas ambas, passam pelo processo de luto da perda do filho idealizado. Portanto vale ressaltar o quanto os profissionais devem desempenhar um papel de acolhimento, amparo e orientação a essas famílias neste momento.

Passado este período inicial de diagnóstico, aconselha-se iniciarem o que é chamado de ESTIMULAÇÃO PRECOCE, com uma equipe multidisciplinar que no modelo ideal (mas que sabemos que é distante da nossa realidade) incluiria diversos profissionais os quais poderíamos citar: Médico, psicólogo, psicopedagogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicomotricista e musicoterapeuta, etc.

A seriedade do trabalho que o profissional vai realizar em parceria com a família é de extrema importância, impactando diretamente no desenvolvimento desse indivíduo. O profissional deve contar com total parceria da família e da escola, pois sem esse tripé – família, escola e terapeuta -, o trabalho não se realizará de forma a atingir todos os objetivos propostos. O compromisso selado entre as partes será determinante no sucesso ou não do trabalho (DOURADO, 2012).

A intervenção precoce deve conter um programa baseado nas dificuldades que estão defasadas e nas habilidades que são emergentes. Tais ações proporcionam condições favoráveis ao desenvolvimento da atenção compartilhada, imitação, aquisição de linguagem simbólica, capacidade de brincar e desenvolver relações humanas significativas através das interações com terapeuta e outros indivíduos (quando realizada a intervenção em pares).

É hora do profissional ajudar e explicar as possibilidades, o sistema de trabalho, o enfoque nas habilidades, a compensação dos déficits, método de trabalho e o PLANO DE AÇÃO a ser escolhido. Por esta razão, retardar o diagnóstico ou o atendimento só tende a prejudicar o desenvolvimento e aquisições de novas habilidades e a capacidade desse indivíduo de se desenvolver plenamente.

 

As perguntas mais frequentes que Luciana Viecelli ouve em relação ao Autismo

 

Qual a causa ou as causas do aumento significativo de casos de autismo?

Os especialistas têm estudado e colocado como uma combinação de hipóteses como:

_ Mudança e melhora nos critérios diagnósticos

_ Fatores ambientais

_ Poluição

_ Uso de pesticidas

_ Medicações durante a gestação,

_ Exposição ao fumo, álcool e diferentes substâncias.

 

A probabilidade é que causas genéticas e ambientais se combinem e favoreçam a predisposição.

Hoje em dia fala-se também em “Autismo Pandêmico”, apresentado pelas crianças que nasceram durante a pandemia e, com grandes atrasos em seu desenvolvimento.

Fatores ambientais como a pandemia favoreceram o isolamento e a não convivência social justamente no período considerado de maior desenvolvimento (faixa de 0 a 3 anos) e aprendizagem social, e, precisamos conviver muito para aprendermos uns com os outros por imitação. Esses bebês e crianças passaram a ficar encerrados e utilizando telas de forma exagerada sendo privados dessa aprendizagem. Ou seja, pouca variedade de estímulos e poucas experiências vivenciadas acarretaram atrasos em várias áreas de seu desenvolvimento.

 

– Se meu filho apresenta algum atraso, mas ainda não possui diagnóstico fechado, deve frequentar terapias ou esperar o diagnóstico médico para só depois iniciar?

Iniciar o atendimento e a Estimulação Precoce com profissional capacitado não depende de diagnóstico, pode ser iniciado a qualquer momento que se perceba sinal de atraso, pois melhores são as chances de desenvolvimento das habilidades defasadas ou atrasadas possibilitando melhor resposta ao tratamento.

 

– Como o profissional deve trabalhar?

Primeiramente o ideal é que possua uma formação específica em algum método, tenha conhecimento de todos os outros métodos, faça constantes atualizações, baseie-se em pesquisas científicas e artigos de qualidade, tenha um espaço de trabalho sem muito estímulo visual e sonoro, possua um trabalho organizado e planejado e um ambiente previsível para leitura visual do TEA ( já que são muito visuais e necessitam imagens) , faça diálogos frequentes com a escola, família e outros profissionais envolvidos no atendimento.

 

– Existe remédio para o Autismo?

Não, não necessariamente um indivíduo autista tem que ser medicado, porque a medicação não é para o autismo e sim para comportamentos ou sintomas que advenham do autismo, sendo assim uma parcela toma medicação e outras tantas não precisam ser medicadas.

 

– Problemas com o sono, seletividade alimentar e alergias fazem parte do quadro?

Sim, na maior parte. Não são características diagnosticas para fechamento de quadro, mas são comumente relatadas e muito frequentes.

 

 

Diferenças nos atendimentos

O que fará a grande diferença no desenvolvimento, crescimento e qualidade de vida das pessoas portadoras de autismo é acesso aos atendimentos e terapias. Proporcionar e oportunizar, o quanto antes possível, e ainda bem pequenos possibilita muita melhora e bom prognóstico. Muitas famílias que têm condições oferecem o ideal de atendimento, muitas horas de terapia, bons profissionais alavancando e minimizando assim os sintomas e desenvolvendo seus filhos frente a esses desafios impostos pelo transtorno.

Já, por outro lado há aqueles que não conseguem nem diagnóstico pois não temos neurologista disponível e quando há, a fila de espera chega a demorar anos. Essa é uma realidade triste e podemos dizer até cruel.

Outros não conseguem oferecer o mínimo de atendimento necessário a seus filhos, na rede de saúde pública, na inclusão escolar etc

A situação agrava-se porque geralmente as mães não podem trabalhar, tendo um impacto na renda familiar, já que não dispõe de lugar especializado para atendimentos tendo ela mesma que se encarregar de lidar com o autismo de seu filho(a) somente com instinto e amor, sem nenhum preparo. Nota-se também o desamparo psicológico que se encontram sem a mínima orientação e assistência.

Tanto crianças quanto jovens e adultos, com autismo, estão a mercê de uma sociedade sem políticas públicas. Precisamos lançar um olhar aprofundado sobre esta causa urgente e requer ações efetivas já, para o dia de ontem.

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