“Nem toda deficiência é visível, julgue menos, ame mais!”

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Dando continuidade às reportagens sobre o Transtorno do Espectro Autista neste mês de abril, dedicado à Conscientização Mundial do Autismo, a reportagem do Correio do Pampa conversou com Catia Paines, mãe do Andrew e coordenadora do Movimento Orgulho Autista Brasil.

Catia contou que o autismo surgiu em sua vida com o nascimento de seu filho Andrew, no dia 23 de agosto de 2016, porém já sabia, durante a gravidez, que seu filho poderia ter algum problema. Depois que Andrew nasceu ela percebeu que ele era uma criança diferente de sua filha mais velha.

“O autismo do Andrew, acredito ser genético, porque meu esposo também é autista, porém só descobriu após o nascimento de nosso filho. Foram duas descobertas juntas. O Andrew era uma criança diferente das outras e quando tinha 1 ano e meio foi confirmado pelo médico o diagnóstico de autismo leve”, frisou.

Catia Paines disse que atualmente o Andrew é um autista infantil leve, mas com déficit de desenvolvimento até pela falta de determinadas terapias, aguardando na fila do SUS junto com outras crianças pelo atendimento com especialista.

Como toda mãe, Catia contou que no início não queria acreditar, passou um período deprimida, mas, depois seguiu em frente e hoje atua de forma significativa pela saúde do filho e auxiliando outras mães.

“Meu filho é uma criança surpreendente e maravilhosa, é um presente de Deus na minha vida. Se perguntares para mim qual o maior amor da minha vida, a resposta será o Andrew, porque ele me ensinou a ver o mundo de outra forma, me ensinou a ter paciência, persistência, a ser positiva, a lutar pelo que eu quero e inúmeras outras coisas que fizeram com que me transformasse em outra pessoa”, explanou.

 

Preconceito

De acordo com Catia Paines, o preconceito existe em todos os lugares, dentro da família, na rua, na escola.

“Depois que eu tive o Andrew nunca mais fui convidada para festas, reuniões familiares, é raro o Andrew receber um convite para aniversários. Hoje ele está com 05 anos e passamos dois anos em pandemia, mas antes disso já não recebíamos mais convites para nada. Depois que se descobriu o autismo no Andrew muitas pessoas se afastaram da minha vida e do nosso convívio, inclusive padrinhos. Os avós respeitam bastante, apesar de não entenderem muito sobre o autismo por serem pessoas mais idosas, mas outros familiares nunca mais nos procuraram”, contou.

Catia disse que na escola é um pouco complicado também, pois alguns colegas descriminam a condição do Andrew.

“Nenhuma criança nasce com preconceito, ela adquire dos ensinamentos dentro de casa e do convívio com os adultos. Por isso sempre falo: eduquem seus filhos para as diferenças, porque no mundo as diferenças existem e nem todo mundo é igual. Não queremos mudar o mundo para os autistas, mas mudar a forma do mundo enxergar nossos autistas, isso é inclusão!”, pontuou.

 

Tratamento

O Andrew iniciou o tratamento com o neuropediatra Flavio Cardoso, na cidade de Bagé, após foi transferido para Livramento com o mesmo profissional médico, já que ele realizava atendimento na cidade.

Como atualmente o Município está sem neuropediatra, Andrew está sem médico, aguardando na fila do SUS, via Secretaria de Saúde, que encaminha por ordem os casos mais graves.

“A próxima consulta do Andrew está marcada para o mês de maio, mas sei que se não conseguir via SUS, terei de providenciar particular para não o deixar sem atendimento. A secretaria encaminha os casos que possuem, além do autismo, outras comorbidades, que tornam o autismo mais grave. O autismo não é uma doença, ele é uma deficiência neurológica, se tornando mais grave quando associado a uma comorbidade, o que não é o caso do Andrew”, discorreu.

 

Ajuda a outras famílias

Catia auxilia muitas mães através das redes sociais ou que a procuram pessoalmente, a fim de entenderem um pouco mais sobre o diagnóstico de seus filhos.

Após o diagnóstico de Andrew, Catia Paines começou a pesquisar, estudar e entrar em contato com outras pessoas que também estavam envolvida com o autismo, aprimorando seus conhecimentos a fim de ajudar tanto Andrew quanto o esposo, que também descobriu o autismo.

“Não existe uma fórmula para lidar com o autismo, todo autista é de uma maneira, então todos os dias precisamos estar estudando. É um mundo complicado, pois muitas vezes não conseguimos fazer valer a Lei que ampara o autista”, discorreu.

O primeiro passo de Catia foi entrar para a Associação de Pais e Amigos de Autista- Todo Autista é Único e, através das redes sociais conheceu a Luciana Mendina, filiando-se ao Movimento Orgulho Autista Brasil.

“Muitas mães me procuram para conversar ou dividir suas inquietações, pois às vezes uma simples conversa já é uma grande ajuda quando se tem um filho autista. Dou atenção para todos, a maioria conheço pessoalmente, criamos um vínculo de amizade muito forte e isso faz bem para todos, pois é uma rede de auxílio que, muitas vezes nos dá suporte para enfrentar o dia a dia. Tudo que faço é de coração, é pelo meu filho e por minha família, faço na tentativa de ajudar quem depende do SUS para o tratamento de seus filhos. Conheço a realidade de muitas famílias, e por estas pessoas que estarei cada dia mais trabalhando e me dedicando nesta luta”, destacou.

 

Movimento Orgulho Autista Brasil- MOAB

O convite para Catia Paines ser a coordenadora do MOAB em Livramento veio após integrar a Associação e ampliar o trabalho de auxílio à outras famílias.

O movimento é uma organização à nível federal, com presidente federal, a coordenadora estadual Luciana Mendina e os coordenadores nos Municípios, sendo Catia a representante em Livramento.

“Aceitei esse desafio na minha vida e vamos em frente. É uma oportunidade de cada vez mais levar a pauta sobre o autismo para todos os lugares. Tenho muitas ideias para serem colocadas em prática, pois precisamos fazer acontecer. O autismo é a minha vida, não chamo de causa porque, amanhã ou depois eu posso não estar mais na associação e nem no movimento, mas terei o autismo presente na minha vida.”, discorreu.

 

Mensagem

Para finalizar, Catia deixa a seguinte mensagem a todas mães de autistas, para que tenham “persistência, paciência, amor e, quanto ao futuro a Deus pertence e o que precisarem do meu auxílio, estou à disposição”, finalizou.

 

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