UM POVO BELICOSO
No dicionário pelear significa “peleja, contenda, disputa, combate e no linguajar gaúcho peleia”. Para o pampeano essa palavra fazia parte do seu modo de vida, como ar que respirava. Quando soava pelos campos era como uma chama que ardia em seu peito, e aquele homem do campo, do rancho ou peão de estância se transformava em sinônimo de luta. A resistência física, o trato das armas, o hábito das cavalgadas e campereadas, faziam do gaúcho um combatente excepcional. Esse espirito guerreiro havia nascido desde os primórdios da conquista das terras da velha Provincia de São Pedro. Cresceram entre os acampamentos militares, na fumaça das fuzilarias, no troar dos canhões, ao som do clarim, no tropel das cargas de cavalaria e nos entreveros de arma branca. A luta pela sobrevivência, sempre em alerta, com o pé no estribo e a lança na mão, contando apenas com seu próprio esforço, habilidade e perseverança, enfrentava todos os perigos daquela vida rude e desafiadora. Quando chagavam noticias dos conflitos na Banda Oriental, era comum ouvir a gauchada exclamar; “vamos embora tem peleia nos castelhanos”. Era como um rastilho de pólvora, por onde passava ia incendiando corações e explodindo paixões numa verdadeira reação coletiva. Em 1893, ao eclodir a Revolução Federalista, o general Gumercindo Saraiva enviou chasques a todos os cantos do Rio Grande convocando os caudilhos maragatos a reunir seus homens para a guerra. Em poucos dias a gauchada atendeu ao chamado para a luta e rapidamente prepararam suas armas. A muitos anos, lá pelas bandas da Conceição, soube de um velho combatente do general Honório, que tinha dependurado na parede de seu rancho um fuzil Mauser. Questionado, ele dizia:” se houver outra peleia das brabas eu estou pronto, e a picana dos bois que está lá fora, eu faço dela uma lança com uma ponta de folha de tesoura de esquilar amarrada com tiras de couro”. Conforme as palavras de um familiar do coronel João Francisco do Caty, ele ficava inquieto e nervoso quando não havia combates. Outro caso, é do general Zeca Neto que lutou nas revoluções de 1893 e 1923, aos 82 anos tinha o hábito de praticar diariamente tiro ao alvo. Um amigo ao visita-lo perguntou-lhe:” General’ por que está praticando com sua arma, a revolução já terminou? O velho guerreiro, de barbas brancas, respondeu: “meu jovem, nunca se sabe quando haverá outras peleias e eu tenho que estar com minha pontaria em dia”. Foi um exemplo da realidade de uma época de ferro e fogo.
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