História

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                                        FAENEROS E CHANGADORES

No século XVI, foram introduzidos no Paraguai algumas cabeças de gado bovino. Trazidos alguns exemplares para as campanhas da margem esquerda do Paraná e do Prata, essa criação teve um desenvolvimento prodigioso. E, meados do século XVII, vários milhões desses animais povoavam os ricos campos rio-grandenses e uruguaios. Também os cavalares, para aqui trazidos do Peru, um pouco mais tarde, se haviam reproduzido em inúmeras manadas. Foi a indústria pastoril a primeira que tomou incremento, talvez pela abundância de gado que vagava pelos campos. Foram a transformação que se operou na vida dos charruas, tornados exímios cavaleiros.  Surgiram acampamentos de faeneros (faena-tarefa) castelhanos, entre os quais também portugueses, davam caça ao gado xucro ou chimarrão, para aproveitar o couro e o sebo. O faenero estabelecido na barranca do grande rio, de preferência na foz de um afluente, o gado era repontado, embretado, e aí separando as melhores reses, secionando o garrão com uma espécie de meia-lua de aço cortante fixada na extremidade de uma taquara. Feito isso, a rês ficava indefesa. Sangravam-na, tiravam-lhe o couro e o sebo que, em grande quantidade, exportavam para diversos pontos do continente e para a Europa. Da carne aproveitavam apenas o necessário para o consumo, abandonando o resto para os urubus. Ao lado dos faeneros surgiram os changadores (biscate, serviço avulso), habitantes clandestinos da campanha, aliados dos charruas, que recusavam qualquer obediência ao governo castelhano de Buenos Aires. Os changadores de parceria com os charruas, produziam graxa e courama, comerciando-as com navios portugueses, ingleses e franceses entrados no estuário do Rio da Prata. Ao mesmo tempo a campanha, desde a serrilhada central do Rio Grande até Montevideo, começava a ser batida pelos preadores paulistas, empenhados a fundo na produção de couro e graxa, com que abarrotavam os navios. Não obstante os rebanhos aumentavam sempre, dando uma vida nova a pampa. O que era antes deserto e silêncio, tornou-se vibração e luta. Agora são os campos cobertos de gado xucro, a cavalgada do charrua, feito habilíssimo cavaleiro, a correria dos preadores, o alarido dos cães, inclusive dos cachorro-chimarrões que, aos milhares, se espalhavam nas restingas e banhados, no estado selvagem, mais ferozes que lobos. Os faeneros, changadores, eram chamados pelos espanhóis de “deserdados do campo” que, juntamente com os índios vagos, corambreros, gaudérios e, mais tarde denominados de gaúchos. Eram os primeiros tempos em que os campos não tinham cerca e fronteira entre o Rio Grande do Sul e a Banda Oriental e ignorada pelos habitantes do pampa.

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