Diálogo – 27/03/2021
Nossa democracia
Vendo esta guerra política nacional na pandemia, pensei nos pensadores Europeus, que os latinos são uns selvagens e são incapazes de se governar. Que as lutas pelas memórias no reconstituir de sentidos e de novos espaços continuam marcadas pelos impactos da fratura abissal colonial moderna direto ao caos pela pobreza.
Steven Pinker, em defesa da razão, da ciência e do humanismo, nos diz que o caos é mais letal que a tirania. Que da desestruturação da autoridade resultam mais multicídios do que do exercício dela. Em comparação com um punhado de ditadores como Idi Amin e Saddam Hussein, que exerceram seu poder absoluto para matar milhares de pessoas, e se encontra convulsões mais mortais como o Tempo das Perturbações (Rússia no século XVII), a Guerra Civil Chinesa – 1926/37, 1945/49 e a Revolução Mexicana – 1910/20, quando ninguém exercia controle suficiente para impedir a morte de milhões. Podemos conceber democracia como uma forma de governo que passa entre os dois extremos, aplicando apenas a força suficiente para impedir que as pessoas sejam predadoras uma das outras e sem que o governo se torne predador do próprio povo. Um bom governo democrático permite que o povo viva em segurança, protegido de violência da anarquia, e em liberdade protegido da violência da tirania. Só por essa razão, a democracia já é uma contribuição imensa para a prosperidade humana.
A democracia também tem taxas maiores de crescimento econômico, menos guerras e genocídios, povo mais saudável e instruído e praticamente nenhuma fome coletiva. Se o mundo se tornou mais democrático com o passar do tempo, isso é progresso. E nessa concepção minimalista, a democracia não é uma forma de governo das mais complicadas ou exigentes. Seu principal pré-requisito é que um governo seja competente o bastante para proteger as pessoas da violência anárquica de modo que não caiam nas mãos do 1º tirano que prometa fazer o trabalho ou até que o recebam de braços abertos. Essa é uma das razões por que a democracia tem dificuldade para se estabelecer em países paupérrimos com governo fraco, pois o fracasso do Estado traz violência e instabilidade, quase nunca traz democratização.
Apesar de a história não ter chegado ao fim, portanto, apesar da crença generalizada de que as eleições são a quintessência da democracia, trata-se apenas de um mecanismo pelos quais se considera que um governo deve prestar contas àquele a quem governa. E nem sempre o mecanismo é construtivo, as facções rivais temem o pior se o outro lado vencer e tentam intimidar uma à outra a partir das urnas. Além disso, autocratas podem aprende a usar as eleições em projeto próprio. A última moda em ditadura chama-se regime competitivo, eleitoral, cleptocrata, estadista ou autoritário patronal. (A Rússia de Putin é a própria, e muitos políticos latinos flertam com isso). Os governantes dos formidáveis recursos do Estado, perseguem a oposição, formam falsos partidos oposicionistas e usam a mídia controlada para divulgar narrativas convenientes.
Se não se pode contar com eleitores, nem com governantes eleitos para sustentar os ideais da democracia, então sucumbimos. Churchill em seu livro, “A sociedade Aberta e Seus Amigos”, questiona quem deve governar, ali ele diz com todas as letras: O povo.
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