Diálogo – 26/09/2020
Nossa origem pampeana (parte III de III)
Em inícios do século 19, Alcides D’Orbigny descreveu do seguinte modo os charruas e minuanos: “[…] cor morena oliva ou castanho pronunciado, estatura média, 1 metro e 688 milímeros. Formas hercúleas. Frente arredondada. Rosto largo, achatado. Nariz muito curto e chato, de fossas largas e abertas. Boca muito grande. Lábios grossos e muito salientes. Pômulos salientes. Traços masculinos e pronunciados. Fisionomia fria, geralmente feroz.” De cabelos pretos, grossos e lisos, teriam pouca pilosidade corporal. É pouco estudada a contribuição pampeana à colonização europeia do Rio Grande do Sul. Os minuanos e charruas forneceram gados, couros, caça, etc. aos lusitanos, durante e após a fundação da Colônia de Sacramento, em troca de bebidas, tabaco, ferramentas, freios de ferro, etc. Parte dessa população começou a ser incorporada, como mão de obra subalternizada nas primeiras arreadas e faenas de couro ou, mais tarde, quando da formação das estâncias e fazendas sulinas. Minuanos arrebanhavam manadas para os tropeiros luso-brasileiros que trilhavam o Caminho do Mar e apoiaram o estabelecimento das primeiras estâncias nos atuais territórios sulinos, a partir dos anos 1720. Quando da fundação de Rio Grande, os minuanos foram utilizados como soldados e peões. Eles roubavam frequentemente couros aos faeneros para vendê-los.
Com os guaranis missioneiros e, mais tarde, os cativos africanos, os cavaleiros pampeanos, espoliados de seus territórios tribais, com escasso acesso às manadas de gado, agora privatizadas, passaram a viver em boa parte do roubo dos gados das estâncias, ensejando dura resposta dos criadores e das autoridades da região. Objeto de reiteradas campanhas de extermínio, eles contribuiriam para a formação do segmento social subalternizado conhecido como “gaúcho”. Minuanos e charruas tentaram defender inutilmente seus interesses pondo-se a serviço dos caudilhos, sobretudo da Banda Oriental. Eles constituíram parte das mais aguerridas tropas de José Artigas nos anos seguintes a 1811, na luta pela independência e autonomia da Banda Oriental. As comunidades que se mantiveram refratárias ao contato com os colonizadores, armadas com suas boleadeiras e longas lanças, foram combatidas e eliminadas pelos portugueses e espanhóis.
Em fins dos anos 1830, o francês Nicolau Dreys lembrava que os charruas, que haviam ocupado da “Lagoa Mirim até o rio da Prata ” e os minuanos que povoavam “o terreno de oeste até as margens do Uruguai ”, dizimados, cruzaram o rio Uruguai para se estabelecer “no país de Entre Rios”. Diziam que subsistiam apenas “alguns indivíduos”, que ficaram nos “domínios de seus antepassados”, “incorporados com a população local”. O último grupo nômade pampiano independente teria sido massacrado em inícios dos anos 1830, ao final da “limpeza” dos campos no Uruguai, pelo então presidente Fructuoso Rivera, em boa parte a pedido dos criadores rio-grandenses estabelecidos nos departamentos setentrionais do Uruguai. Com isso morrem partes dos costumes selvagens sobrando a tradição pampeana de toda uma região.
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