Diálogo

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Nossa difícil convivência política

Desde de sempre os santanenses são reféns da desunião entre os poderes legislativo e executivo, um atraso civilizatório que impacta a todos.  Acreditam que a popularidade isenta alguém de crimes de poder ao retrocederem à preferência aleatória dos deuses da soberba. A cada eleição municipal assistimos barbaridades dos nossos políticos, fogueiras de vaidades se incendeiam, a última pelo aumento do IPTU, um total desrespeito a democracia e a cidadania, pois optaram pela imposição do decreto, embora legal, deveria ser negociado e desenhado com a câmara e comunidade mais justo e moderno.

Muitos acreditam que passada as eleições, o seu dever está cumprido. Na verdade, é após esse momento que a participação de todos se torna fundamental para o exercício da democracia. Nem sempre é fácil se relacionar bem. Um bom convívio não é aquele que une as pessoas perfeitas, mas aquele em que cada um aprende a conviver respeitando o outro. A convivência entre as pessoas sempre foi muito discutida, principalmente numa comunidade ainda pequena como a nossa. “Viver em sociedade requer instinto de formiga, presas de leão e habilidade camaleônica”, dizia Carlos Drummond de Andrade.

Por isso trago aqui uma fábula de autoria desconhecida, foi adaptada da metáfora “O dilema do porco-espinho” do filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) onde expôs esse conceito em forma de parábola na sua obra ‘Parerga und Paralipomena’, a qual tornou-se um conto popular com inúmeras versões, citado até mesmo por Sigmund Freud. Trata de uma sociedade de porcos-espinhos que se juntou num dia de inverno e para evitar o congelamento procuraram se esquentar mutuamente.

A fábula é de uma era glacial muito remota, quando parte do globo terrestre estava coberto por densas camadas de gelo, muitos animais não resistiram ao frio intenso e morreram, indefesos, por não se adaptarem às condições de clima hostil. Foi então que uma grande manada de porcos-espinhos, numa tentativa de se proteger e sobreviver, começou a se unir, ajuntar-se mais e mais. Assim, cada um podia sentir o calor do corpo do outro. E todos juntos, bem unidos, agasalhavam-se mutuamente, aqueciam-se enfrentando por mais tempo aquele inverno tenebroso. Porém, vida ingrata, os espinhos de cada um começam a ferir os companheiros mais próximos, justamente aqueles que lhes forneciam mais calor vital, questão de vida ou morte. E afastaram-se, feridos, magoados, sofridos. Dispersaram-se por não suportar mais tempo os espinhos de seus semelhantes. Doíam muito, mas essa não foi a melhor solução. Afastados, separados, logo começaram a morrer. Os que não morreram voltaram a se aproximar, pouco a pouco, com jeito, com precauções, de tal forma que, unidos, cada qual conservava uma certa distância mínima do outro, o suficiente para conviver sem ferir, para sobreviver sem magoar, sem causar nenhum dano recíproco. Assim suportaram-se resistindo à era glacial.

O cenário em Livramento é perfeito nessa parábola, o florescimento do autoritário dentro de cada um de nós é o espinho que nos impede o desenvolvimento. Tomara que um dia nos libertemos desses espinhos.

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