Diálogo

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Natal é voar nos pensamentos

        Que me desculpem a inconveniência, mas não sou admirador do Papai Noel, quando menino de dez anos, morava na travessa João Escosteguy com Vasco Alves, meu pai por conta do meu irmão Miguel, que estava doente por meningite tuberculose, estava ausente e minha mãe sem ânimo num tempo, que um dia marca todas as famílias. Então, na noite de natal o Papai Noel chega na minha rua com um saco vermelho cheio de mistério, passando por mim como se eu não existisse, distribui presentes para algumas crianças e logo entrou numa casa onde eu o espiava bebendo e dando risada. Esperei, esperei, até que minha mãe me chamou e me deu um jipezinho de plástico dizendo que era do Papai Noel. Eu fiquei feliz, claro, mas vi que minha mãe mentia. Era grandinho com 9 anos para entender que algo estava errado. Muitos natais felizes se passaram, mas nunca esqueci esse dia, principalmente, como ainda é hoje, pois muitas crianças o Papai Noel não visita. Penso nelas esperando o Papai Noel, e nisso acho uma realidade muito dura na descortinada ilusão de um sonho.  Claro é objetivo aqui destruir encantos, mas sim sublinhar a verdadeira história de São Nicolau, de que Papai Noel não existe e que o traje vermelho foi criado pela Coca-Cola para publicidade, ao contrário de muitos países, como a Alemanha, onde as crianças pedem presentes ao menino Jesus.

Bem, o resto todo mundo sabe, a publicidade de uma marca com o sonho do milagre de um presente nos fascina e mantém a magia natalina nas crianças, isso é inegável. Mas para mim e muitas crianças, hoje adultas o Papai Noel não comove tanto. Mas sim o Natal, onde a Terra não ouviu o choro daquele Recém-Nascido, porque a Terra dormia, mas os muito simples e os muito instruídos sabem de como o coração de Deus pode gritar no choro de uma Criança.

Quando o menino Jesus nasceu, os reis não ouviram o choro, pois não sabiam que um Rei poderia nascer num estábulo, os impérios não ouviram o choro, pois os impérios não sabiam que um menino poderia segurar as rédeas que dirigem sóis e mundos nos seus percursos. Mas os pastores e os filósofos ouviram o choro. E eles vieram com presentes, e adoraram, e tão grande era a majestade sentada na face do Menino, tão grande era a dignidade do bebê, tão poderosa era a luz daqueles olhos que brilhavam como sóis celestiais, que eles não podiam deixar de gritar: Deus está conosco. E assim, voamos no natal, voamos nos pensamentos, voando em orações para o menino Jesus, pureza das crianças que buscamos em nós.

 

 

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