O encanto da Maria Mole
Todo ano, na floração das marias-moles, minha avó contava uma história: que havia magia nas almofadas das marias-moles pelo contraste do ouro do sol, essa fotossíntese libertava o amor campeiro na profundidade da composição do amarelo em contraste delas nas planícies com o céu.
Há muitos anos, uma senhora em um dia como outro qualquer, o silêncio é calado por três toques secos da mão de bronze na porta da frente. Corre para atender, abre a porta e… Surpresa! Era um enorme arranjo de flores amarelas do campo tapando o rosto de um rapaz, bem ao gosto dela. – Que estranho moço! – Exclamara curiosa. – Quem além do meu marido, me presentearia no dia do meu aniversário com estas flores, oro del sol? O rapaz surpreso meio sem jeito responde: – Não sei senhora. Olhe o cartão aí dentro! Ela, com a voz meio embargada lê rapidamente: – Mas isso não é possível? Ele faleceu há dez meses! – Ora senhora… Eu só faço o que me mandam.
Ela sob forte comoção e mãos tremulas, abre o envelope rasgando o cartão do buquê sem querer. Mal conseguira ler novamente àquelas linhas devidos os olhos estarem encharcados de lágrimas. Dizia o cartão: “Feliz aniversário querida! Sei que estás surpresa, mas não tanto quanto eu com esta doença maldita que me arrancou violentamente da tua vida. Se não encontrastes explicação para estas flores, por favor me perdoe, tenha a certeza de que é com a fé em Deus de que nunca estaremos sozinhos, que encontrei conforto para o meu destino”.
Naquele instante, ao apertar as marias-moles no peito, lembrara das carretas enfileiradas na frente da casa da fazenda, que iam da porteira, onde tinha uma gruta com a imagem da Nossa Senhora, até o portão da casa. Sua mente era de slides vivos de tempos felizes em que ele aparecia, quando mandava apanhar estas flores todos os anos só para agradá-la. Logo, com a emoção mais controlada, sente os raios brilhantes do sol atravessar sua alma. Era uma manhã de cegar a retina de tanta luz, então, poder ler o restante da mensagem no outro lado do cartão, escrito assim: “No momento em que escrevo esta, não consigo nem rezar porque minha alma desconsolada pelo meu silêncio pensa que talvez me faltasse coragem para escutá-la ou talvez receie de levar uns pedidos a Deus. Temo que ele não tivesse tempo para preocupar-se com meus caprichos, e em sendo assim, eu deveria ter tido mais seiva de angico para esses passos sozinhos e incertos, pois as decepções, as derrotas e o desânimo que Deus me mostrou, foram para eu valorizar as estradas de almofadas de ouro a caminho da nossa casa. Foi através do perfume dos campos floridos com nossas humildes marias-moles, que vivemos os melhores momentos da nossa existência. Foram poema dos poemas, o teu sorriso, por cada braçada de flores que esparramavas na entrada da casa! Até quando Deus queira meu amor!
Enxugando as lágrimas com o dorso da mão sussurrando em soluços: sequer desconfiei do teu sofrimento da doença. Mesmo partindo… Sempre fez de mim uma mulher feliz. Sempre! Aguarde-me!… Logo-logo estaremos juntos, meu amor! Dias depois, no balanço sob a árvore em que ele costumava embalá-la, foi encontrada dormindo, para sempre.
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