Diálogo

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Os demônios

Vendo nossa endemoniada política no parlamento conduzindo nossa Pátria sob mentira perversa, fui buscar na literatura uma explicação que me adoçasse o desgosto por ver tanto “inteligentinho” nos comandando. Aliás, inteligentinho é para o filósofo Luiz Felipe Pondé, aquele cara que lê, geralmente um livro de protesto, e quando a gente fala: Olha, sete bilhões de pessoas não dá para todo mundo ser feliz e ter tudo o que deseja. Daí ele conclui que acha que você quer que as pessoas têm que passar fome. Esse tipo de gente virou uma peste que se esparramou na política e até no nosso conteúdo de uso cultural.

Você acha que existe uma coisa chamada mentira, outra chamada bem, outra chamada mal. Gosta de falar que tudo é relativo e que a verdade não existe e que tudo é relativo. Ou, será que é certo olhar para tudo isso e afirmar que não existe fundamento para a verdade e para a mentira e que se pode sair por aí afirmando que não existe verdade ou mentira? Então você precisa ler ´Os demônios´ de Dostoievski (1821-1881), é um livro que é levado este relativismo as últimas consequências, aquilo que a gente conhece como niilismo, nos leva a entrar nesse mundo que conhecemos bem aqui, tanto nos descaminhos da nossa cultura de contrabando como nas revoluções ‘hasta las últimas consecuencias’ do desespero humano. Ele integra, juntamente com ´Crime e Castigo´, ´O Idiota´ e ´Os irmãos Karamazov´, a última e mais importante fase da carreira deste grande escritor russo.

Talvez em nenhum dos seus cinco grandes ro­mances, Dostoiévski haja atingido a “totalidade do movimento dramático”, como o fez em “Os Demônios”, que, por isso mesmo é de uma extrema complexidade de entendimento. Talvez esse seja o motivo pelo qual até o próprio Czar Ale­xandre II pediu que o autor o esclarecesse sobre a que vinha o livro. Os Demônios foi, sem dúvida, a obra em que o realismo trágico de Dostoiévski mais se aproximou de fatos históricos. O caso que propiciou o foco narrativo foi o assassinato do estudante Ivanov, por ordem do niilista Sergey Nechayev a quem aquele não lhe reconhecia autoridade revolucionária. Nechayev, de certa forma, era discípulo de Mikhail Bakunin e com ele havia escrito o “Catecismo de um Revolucio­nário”, obra exemplar em maquiavelismo político, no dizer de Friedrich Engels. Após o assassinato de Ivanov, Bakunin rompe com Nechayev, e realiza sua autocrítica de que todos os meios são justificáveis para atingir os fins revolucionários.

Os demônios são niilistas e esse desfazer-se com o mundo, termina com que eles a tudo neguem, até mesmo o amor, a amizade, a honra e a verdade. Negam Deus, falsificam o bem, pois somente o mal poderia conduzi-los ao poder político. Iludem as pessoas fazendo-as crer que falam em nome de uma enorme organização política, quando na verdade, falam exclusivamente por si próprios e daqueles que eles conseguem, por algum tempo, iludir. A semelhança ao o que ocorre com o Brasil é mera semelhança, ou, uma crônica latina de uma morte anunciada do Garcia Marquez.

 

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