História – 17/04/2021
O PRIMEIRO TROPEIRO DO RIO GRANDE
O pesquisador não deixa de ser um detetive entre livros, artigos e registros. Mais uma vez quero citar uma personalidade marcante do século XVIII na história do desbravamento das terras do Rio Grande, o coronel Cristóvão Pereira. Investigando encontrei um relato do escritor alemão Wolfgang Hoffmann Harnisch que escreveu sobre o Rio Grande do Sul, após algum convívio com as nossas coisas, a nossa paisagem natural, o nosso passado.
Em suas andanças e pesquisas, muitos aspectos e peculiaridades da vida rio-grandense lhe chamavam vivamente a atenção, mas das personalidades vinculadas à conquista e defesa desta parte do Brasil uma das quais a mais o iriam impressionar seria justamente Cristóvão Pereira. O escritor admirava-se de que nestas paragens ainda não alcançadas por qualquer módulo de civilização, mal tocadas pelas primeiras incursões da gente de Laguna, esse extraordinário sertanista e tropeiro aí cruzasse e recruzasse com seus homens aventureiros quase todos, a bater descampados, areais e sertões, tudo imenso e deserto. Desde a Colônia do Sacramento cortava os campos cisplatinos infestados e castelhanos e índios missioneiros empurrando suas pesadas tropas de bovinos, cavalos e muares até os mercados centrais do país. É considerado como o primeiro tropeiro do Rio Grande. Além disso, era mais, bem mais que isso; era também um homem capaz de levantar mapas com a maestria de verdadeiro topógrafo. Era um contratador de couros, um encargo rendoso, duro, agreste, que oferecia todo os riscos de uma atividade tensamente ligada de um comércio perigoso. Nessas espantosas empreitadas, Cristóvão Pereira fez amizade com os índios minuanos e tornou-se o maior conhecedor da região. Foi esse sertanista singular talvez o primeiro enamorado da terra que ele tantas vezes palmilhou, lutou, indo e vindo pelos seus caminhos primitivos, e na qual acabaria se aquerenciando até o final de seus dias. Deve-se a ele o desempenho no processo de alargamento e fixação de nossas fronteiras meridionais. Homem culto, intelectual, de origem nobre, vindo jovem de Portugal, lançou-se na aventura ultramarina como contratador de couros, convertendo-se depois no campeador e sertanista que parecera ter encontrado nas terras do sul os verdadeiros caminhos de sua vocação. Após trinta anos de intensas atividades nas terras do Continente, Cristóvão Pereira iria findar seus dias na própria vila que ajudou a fundar e construir com Silva Pais. Morreu pobre e coberto de dívidas. Há muitos exemplos de grandes homens que terminaram assim. Hoje, o oficial de milícias o Coronel Cristóvão Pereira descansa no cemitério de Rio Grande.
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