Como funcionaram os empreendimentos de bairros de Sant’Ana do Livramento na pandemia

De acordo com a 7ª edição da pesquisa Monitoramento dos Pequenos Negócios na Crise, promovida mensalmente pelo Sebrae-RS, nos últimos meses, mais de 80% das empresas estiveram fechadas ou com restrições de operação. Além disso, os empresários passaram a remodelar os seus negócios e algumas mudanças que foram implementadas durante o período serão mantidas, principalmente o relacionamento com clientes através das redes sociais e as vendas por estas plataformas.

Pensando nisso, a reportagem do Correio do Pampa conversou com três empreendedoras de Sant’Ana do Livramento, que atuam nos bairros Armour, Povinho e Vila Real, para saber como está sendo o trabalho em meio aos desafios impostos pela pandemia.

A proprietária do Armazém da Karla, localizado na Vila Real (R. Vicente Ilha de Vargas, 1600), Carla Tatiane Massaque Silva, de 40 anos, relatou que 2020 foi um ano diferente para todos e que apesar das restrições não terem sido tão severas para quem trabalha com armazém, nunca tinha passado por algo tão assustador, ainda sem saber o que pode acontecer enquanto aguarda a vacina.

“Graças ao auxílio emergencial não sentimos dificuldades financeiras para cumprir os compromissos, mas estamos sempre mantendo todos os cuidados para não contrair o vírus e orientando os clientes a usarem a máscara e se protegerem, já que essa é nossa única forma de evitar o contágio”, ressaltou.

Há 20 anos atuando no comércio, Carla conta que a ideia de empreender surgiu com a necessidade de trabalhar em casa para conciliar com a maternidade, pois não queria ficar longe do seu filho durante todo o dia. “Então comecei com gêneros alimentícios em geral e no comércio de vila as pessoas procuram de tudo um pouco, então tem que estar sempre buscando ter o que o cliente procura para se tornar referência e conquistar a fidelidade dos mesmos”, explicou.

Com o armazém em anexo à sua casa, a empreendedora consegue manter um horário de funcionamento estendido, pois conta com a ajuda do esposo e da cunhada. Ela conta que a conquista da freguesia foi fácil, por sempre ter morado no local, o que também auxiliou para que conseguisse manter o seu negócio.

“É uma entrega total. Sempre coloco como prioridade o compromisso com os fornecedores, de manter os pagamentos em dia, e o compromisso com os clientes, que sabem que o comércio está sempre aberto quando precisam. A maioria dos moradores da vila são autônomos, então recebem por dia, e ir ao supermercado não vale a pena, também pela distância”, destacou.

Marluci Lidiani Goulart de Souza, de 39 anos, proprietária do salão Centro de Beleza Sempre Bella, localizado no Armour (R. José Fernandes Mendes, 520), atua no ramo há seis anos, sendo que durante três anos pagava aluguel. Enquanto trabalhava fora, ela fazia unhas e cabelo no seu tempo livre, indo até a casa das clientes, para ganhar um dinheiro extra, até que em 2015, quando tirou férias e tinha seu filho pequeno, decidiu abrir o próprio negócio para também ficar mais próxima da família.

Marluci abriu o salão em março, em uma sala comercial na avenida, mas teve um começo difícil, passando dias sem clientes, porém logo após o primeiro mês a demanda se tornou tão grande que precisou de ajuda. Ao longo do tempo, o espaço se tornou pequeno e ela reestruturou o Centro de Beleza em uma local maior, contudo, ao precisar sair do aluguel, montou o salão novamente em espaço menor, mas anexo à sua casa.

Hoje conta com clientes fixas de diversos bairros, que frequentam o salão semanalmente, e sempre com clientes novas, que encontram o salão por indicação ou pelas redes sociais, ferramentas que ajudam muito a movimentar o estabelecimento. Mas, segundo a proprietária, o início da pandemia foi um período assustador, pois foi necessário fechar as portas. “Foi bem difícil esse começo, fechar as portas de uma hora para a outra, não sabíamos como agir. Quando surgiu um novo decreto que nos autorizava a trabalhar seguindo o protocolo, o movimento voltou a fluir”, relatou.

O diferencial do Sempre Bella, destacado por Marluci, é a flexibilidade de horários, pois os serviços são agendados de forma a se encaixar no tempo de seus clientes, porém sempre por agendamento, especialmente devido à pandemia, pois entre um cliente e outro é feita toda a higienização do ambiente, para recebe-los com todos os cuidados necessários. Esse cuidado constante em seguir os protocolos e manter a higienização do salão é o que ela acredita ter sido o que fez o movimento se manter, pois os clientes se sentiam seguros de frequentar o local.

“Estamos sempre buscando novidades, para trazer coisas diferentes para os clientes. Oferecemos de tudo, desde o cabelo até a unha, sobrancelha, cílios, a última novidade que eu trouxe para o salão foi a plástica dos pés, que deu um bom resultado, e vamos ir em busca de outras, fazendo cursos para trazer novidades e a gente se especializar, porque mechas mesmo sempre tem uma técnica nova surgindo”, exemplificou.

A expectativa de Marluci para 2021 é que amenize o ano que passou, que foi devastador. “Eu achei que poderia brindar o 31 e dizer que venci 2020, mas pelo destino eu não pude, meu pai está no hospital, 2021 também está difícil, mas Deus sabe de todas as coisas, que depois que isso passe 2021 venha para melhorar”, ponderou.

Já para a jovem empreendedora de 18 anos, Emanuelly Marques, moradora do Povinho, no ano de 2020 foram vários acontecimentos, após alguns anos comercializando semijoias despretensiosamente, em janeiro ela teve a ideia de empreender e, com o apoio dos pais e do marido, iniciou com a venda de esmaltes, abrindo a loja virtual Bella Guria. Ao longo dos primeiros meses do ano, a loja foi tomando uma proporção maior, e conforme as clientes pediam, ela passou a fornecer novos produtos.

“Trabalhamos hoje com várias marcas, estamos cada vez tentando expandir mais. Depois dos esmaltes começamos a trabalhar com a Natura, agora estamos com a Ruby Rose também, e roupas de marcas como Pimenta Rosa e Di Corpo, fazemos cestas também e trabalhamos com a Cacau Show”, contou.

Por já ter iniciado no meio de forma virtual, Emanuelly conseguiu que o seu empreendimento crescesse. “As pessoas não saiam, estavam em quarentena e preferiam comprar de quem levasse de porta em porta do que ir até o centro comprar, até porque as lojas estavam fechadas”, relembrou.

A Bella Guria é uma loja online, que tem atendimento através do Instagram, Facebook e WhatsApp, as vendas podem ser realizadas de duas formas, já com a escolha do produto e entrega grátis, ou solicitando atendimento domiciliar, em que a proprietária leva os produtos à domicílio para que os clientes vejam, trabalhando com os principais tipos de cartões e pagamento à vista com desconto.

Mesmo que ser uma loja online tenha facilitado e impulsionado o empreendimento, para Emanuelly foi perceptível que muitas pessoas tiveram receio de receber a vendedora, e por isso ela sempre procurou realizar testes de Covid-19, além de seguir todos os protocolos e oferecer alternativas, como apenas entregar os produtos ou levar os produtos para os clientes verem no porta-malas do carro, enquanto ela aguardava dentro do veículo.

A jovem empreendedora ainda atribui aos produtos embalagens personalizadas da loja, sempre procurando apresentar um diferencial e de certa forma confortar seus clientes. “Eu sou muito grata a todas as pessoas que continuaram conosco neste ano difícil, porque era um momento em que compras era o que menos se pensava, então eu agradeço muito e é uma forma de levar um carinho para as pessoas”, afirmou.

Prestes a completar um ano de Bella Guria, a jovem está entusiasmada em anunciar que a partir desta segunda-feira, 11, a loja terá também um espaço físico na Av. Francisco Reverbel de Araújo Góes, 3395. “Nós não vamos parar de trabalhar a domicílio, vamos seguir atendendo as nossas clientes da mesma maneira, mas achamos necessário ter um local, para que as pessoas se sentissem mais à vontade”, contou.