Diálogo – 19/09/2020

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Nossa origem pampeana (parte II de III)

A partir dos últimos dois milênios, começa nossa luta desesperada, as comunidades pampeanas sofreram a pressão dos colonizadores guaranis que penetraram em parte de seus territórios. Essas comunidades de caçadores, pescadores, coletores e horticultores de floresta tropical e subtropical tinham como um dos seus principais habitats as florestas em galerias dos vales dos rios e das lagoas. Pampeanos e guaranis disputaram o controle de importantes nichos geoecológicos nessas regiões. Os pampeanos opuseram-se à invasão de seus territórios pelos recém-chegados.

A partir de inícios do século 16, os caçadores, coletores e pescadores pampeanos opuseram-se, com igual destemor, mas com resultados menos efetivos, ao avanço do colonizador europeu, processo que se concluiria nos anos 1830. Quando da difusão de rebanhos de gados europeus nos pampas a oriente do rio Uruguai, os nativos pampeanos deixaram de se deslocar, caçar e guerrear a pé, servindo-se desde então para tal do cavalo, o que lhes permitiu explorar as manadas de gado, primeiro de forma predatória, a seguir como criadores muito incipientes, revolucionando suas formas de vida. A montaria teria aumentado a capacidade produtiva dessas comunidades e desqualificado as mulheres em relação aos homens. Os charruas passaram a construir seus abrigos com couros animais – toldos – e prefeririam como alimentação a carne de potro à bovina.

Os charruas e minuanos do pampa uruguaio e sul-rio-grandense disputavam as manadas de gado com os guaranis missioneiros e com os espanhóis, com os quais chegaram a pactuar acordos de não agressão. Os lusos-portugueses aproveitaram-se dessas contradições para conquistar o apoio dos minuanos na extração de couros e na colonização territorial do Sul. O ataque de nativos charruas confederados, de novembro de 1701, às missões de Yapeju, teria sido instigado pelos portugueses de Sacramento. De 6 a 10 de fevereiro de 1702, a ação motivou forte retaliação de um exército hispano-missioneiro de dois mil homens, que, com armas de fogo, mataram centenas de minuanos no rio Yí e levaram quinhentas crianças e mulheres pampeanas para a missão de Santo Ângelo.

Os charruas e minuanos do pampa uruguaio e rio-grandense vestiam uma espécie de calção de algodão, xiripá, enrolado da cintura até os joelhos. Nas costas, até os calcanhares, portavam “capas” de couro, “descarnadas e sovadas com o pelo” contra o corpo, atadas ao pescoço por uma tira do mesmo material. Essas comunidades consumiam grande quantidade de carne mal assada de avestruz e de outros animais, churrasco, e eram aficionadas ao consumo do mate. Com a chegada dos europeus, os pampeanos, que viviam em toldos feitos com couro, passaram a caçar o gado e a portar, igualmente, uma longa faca, embainhada em couro, presa, enviesada, às costas, hábito herdado pelos futuros gaúchos da região.

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