Diálogo – 30/07/2020

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Amorosa Sant’Ana do Livramento

Nesta cidade não há rios que a corte, mas como há pontes separando as pessoas! Aqui a vida é pequena, onde as casas fecham a vista das janelas sem olhar o dia a dia. Não importa se a cidade está limpa ou está suja, não importa as ruas esburacadas escuras, calçadas quebradas, pessoas passando apressadas com medo da pandemia. Nela, a gurizada cruza os carros pedindo troco, cachorros vadios matando a fome no lixo das calçadas, disputando comida com mendigos mostrando que a dor e a miséria chegaram de vez, querendo ficar. Aqui as portas ainda têm trancas de ferro, terrenos baldios no abandono das vilas, na falta de teto, na vela queimada, do pão que não tem. E na luta sem dormir, exaure-se a vida onde quem nada encontrou de bom aqui, não poderá encontrar em outro lugar e, aquele que não encontrou amigos noutro lugar, poderá encontrar aqui, porque aqui ainda é de dar pousada para quem quer ficar num fogo de chão com bom chimarrão.

Me pergunto porque pouco nos dedicamos à nossa Sant’Ana. Votamos sem esperanças e não lutamos por nossa cidade para valer. Quando mais vamos nos conformando perante a vida, mais vamos nos machucando porque perdemos a vontade de cuidá-la. Temos desejos, o que não é a mesma coisa que vontade, pois vontade pressupõe luta, agir, movimentar-se e isso dá trabalho. Temos a responsabilidade de trazer a prosperidade e a fraternidade, sem desviar da colheita dos vinhedos, olivais, arrozais e toda a nossa vocação pastoril com as eólicas soprando nos caminhos que um dia nos encontrarão. Que o nosso desejo para ela seja um rosário de fé nesta terra abençoada por Deus a nos dar o néctar dos seus seios verdes, alimento do corpo e da beleza da nossa face vincada pelo tempo. Tempo que choramos por ti nas batalhas da vida, dos intermináveis embates políticos que um dia florescerão como as flores para o mel que nossos apicultores coletam a adoçar nosso porvir.

Ah, minha Sant’Ana! Amada manjerona em que nasci, que unamos esforços por ti, ou por nós mesmos, ajoelhados na escada da Matriz como castigo por te desobedecer. É hora e já tarda, irmos em frente: a te cuidar, pintar, iluminar, florir, amar e mimar. És como uma mãe mimosa, sem nome, com teu jeito materno, eterno, a assistir a vida passar sem desviar o olhar de teus filhos indolentes, que contemplam mais um ano da tua vida sem agradecer. Em que lugar do mundo teus filhos podem viver esta irmandade de povos sem guerrear? Em que lugar do mundo o exemplo da união espiritual de casais binacionais é um hino à liberdade entre as nações? Onde essa irmandade ao entardecer com o ascender de luzes vem anunciar que o melhor do dia está para chegar? Só mesmo no teu manto estrelado para nos aconchegar! É só aqui nesta fronteira extraordinária, que a noite majestade misteriosa, nos toma em seus braços para confortar. Sejamos fraternos com numa prece para ganharmos de presente desta amorosa cidade, o manto sagrado da felicidade da Nossa Senhora para sonhar.

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