OS CHARRUAS MORREM EM PARIS
Encontrei um recorte de história, sem data, amarelado pelo tempo do Jornal El País com a manchete sobre a sensação que causou quatro índios charruas que foram levados do Rio da Prata para ser exibido perante o público parisiense. PARIS junho de 1833. Os prisioneiros, três homens e uma mulher, seriam os últimos representantes da etnia “Charrua”, numa época que eram senhores indiscutíveis do território de seus país, porém virtualmente exterminados pela perseguição dos exércitos coloniais primeiro e da república depois. Anotou um jornalista:” A poucos dias o presidente da República uruguaia, o general Fructuoso Rivera, levou adiante uma expedição de extermínio contra a última tribo, do qual estes quatro índios seriam seus últimos representantes. O presidente Rivera escolheu para ser enviados a Europa aqueles de mais interesse por seus rasgos fisionómicos; o primeiro é um cacique temível; o segundo um curandeiro da magia medicinal, conhecedor de plantas curativas capazes de cicatrizar as feridas. O terceiro é um jovem e feroz guerreiro, renomado pela sua habilidade na doma de cavalos selvagens. A quarta é uma mulher, companheira do jovem guerreiro. A presença destes selvagens despertou reações diversas. Por um lado, um grupo de cientistas liderados por Saint-Hilaire, realizou um conjunto de estudos antropológicos. A orquestra do Conservatório de Paris interpretou em sua presença algumas peças musicais, enquanto os integrantes da Academia de Ciências Morais observavam os efeitos que causava a música nos aborígenes. “O resultado foi extraordinário. Os charruas abandonaram a sua habitual apatia e demonstraram grande interesse quando ouviram a flauta Toulon interpretar seu instrumento. O jovem indígena de nome Tacuabé executa um primitivo instrumento musical, de uma só corda. As testemunhas comentaram que Tacuabé apoia um extremo do instrumento entre os dentes, utilizando a boca como caixa de ressonância. Um dos ouvintes disse: “Consegue tirar sons harmoniosos e doces”. A imprensa criticou duramente o tratamento aos índios, que consideram “inumano” Não são feras selvagens nem débeis mentais, e sim pobres infelizes que foram arrancados de tudo que lhes era familiar e apresentados como espetáculo perante pessoas que nada tem de superior”. “Ninguém tem ideia de que estamos cometendo com eles um crime da pior espécie? São os últimos expoentes de uma nação orgulhosa. O mais velho deles, um antigo cacique escolheu morrer de fome perante sua impotência”. Foi tão absurdo, que eles eram expostos como animais selvagens e o público curioso pagava para vê-los. Alguns anos atrás o governo uruguaio resgatou os restos mortais desses charruas que foram sepultados com honras no cemitério dos heróis.
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