UM DIÁRIO DAS TRADIÇÕES GAÚCHAS
Sem os registros dos viajantes do século XIX nunca ficaríamos sabendo dos usos e costumes dos habitantes do Rio Grande do Sul. Faço menção especial ao francês Auguste de Saint-Hilaire, botânico e naturalista que chegou à Capitania em 1820. Em suas viagens pela campanha registrou em seu diário a geografia, a história natural e os aspectos sociais e econômicos da vida rio-grandense. Em uma de suas viagens ele anotou em seu diário o seguinte:” Em todo o Brasil os melhores leitos compõem-se de um simples colchão de palha de milho, mas na primeira estância a que cheguei na Campanha nem isso existia e cada qual dormia sobre o arreiame de seu cavalo. A carona serve de colchão e o lombilho de travesseiro. Sobre a carona põe-se o pelego e deita-se envolto no poncho. Ao entrar nessa Capitania verifiquei logo os hábitos de seus habitantes. Em todas as estâncias veem-se muitos ossos de bois, espalhados por todos os cantos, e ao entrar nas casas das fazendas sente-se logo o cheiro de carne e de gordura. No acampamento ele observou: Meu soldado cortou a carne em pedaços da espessura de um dedo, fez ponta em uma vara de cerca de 2 pés de comprimento e enfiou-a à guisa de espeto em um dos pedaços, atravessando-o por outros pedaços de pau, transversalmente, para estender bem. Enfiou o espeto obliquamente no solo, expondo ao fogo um dos lados da carne, e, quando o julgou suficientemente assado, expôs o outro lado. A chaleira de água quente está sempre ao fogo e logo que um estranho entre na casa se lhe oferece o mate. O uso de essa bebida é geral aqui. Toma-se ao levantar da cama e depois várias vezes ao dia. A cuia tem a capacidade de mais ou menos um copo, é cheia com a erva até a metade, completando-se o resto com água quente. Conhece-se que a erva perdeu sua força e que é necessário trocá-la quando, ao derramar sobre ela a água quente, não se forma espuma à superfície. A primeira vez essa bebida, achei-a muito sem graça. Mas logo me acostumei a ela e atualmente tomo vários mates, de enfiada. Acho no mate um ligeiro perfume, misto de amargor, que não é desagradável. Há muitos méritos nessa bebida dita diurética, própria para combater dores de cabeça e para amenizar os cansaços dos viajantes, e na realidade é provável que que seu amargor torne-a estomáquica e, por conseguinte, necessária em uma região onde se come enorme quantidade de carne, sem os cuidados da perfeita mastigação”. Saint-Hilaire em seu diário ele anotava o presente com o entusiasmo de quem vive a história. Em seu livro intitulado “Viagem ao Rio Grande do Sul” se constitui numa insubstituível “reportagem” sobre nossa gente, nossa terra.
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